sábado, 30 de dezembro de 2017

Hoje termina finalmente 2017

Hoje termina finalmente 2017. O pior ano de sempre. O ano em que a vida deu um triplo mortal, três cambalhotas à retaguarda e um grande trambolhão (quem me conhece sabe que sempre fui uma nódoa a ginástica!).
Vem aí 2018 e é tempo de renovação. E assim, com o encerrar do ano, encerra também esta chafarica.
Porque agora é tempo de olhar em frente e tentar afugentar o senhor fantasma que paira por cima da minha cabeça. Tentar que haja cada vez mais momentos em que o cancro não está presente.
A quem seguiu estes meus delírios quero apenas agradecer. Agradecer por me terem feito companhia, pelas mensagens e comentários. Por darem sentido a estes escritos.
A quem ainda enfrenta os tratamentos deixo uma palavra de força. Em breve serão vocês a encerrar um capítulo e a seguir em frente.
Desejo para todos um 2018 repleto de paz e saúde. O resto a malta vai orientando.
Vemo-nos por aí! 

Texto alt automático indisponível.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

É a pura da loucura!

Adoro ir ao médico!
Saio sempre de lá cheia de planos e coisas para me ocupar, não vá a vida tornar-se algo entediante.
Desta vez, para além de análises e exames vim feliz com mais um comprimido diário. É que andava aflita sem nada que fazer a seguir ao almoço... 

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😒

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Revisão

Ontem foi dia da primeira revisão. A revisão dos 3 meses. Em tempo de gente. Em tempo de carro não sei. O meu conta quilómetros deu o berro há já um tempo.
Não me alinharam a direcção nem afinaram o motor. Foi uma pena. Ando mais desalinhada que as camionetas da Transportes Sul do Tejo que faziam a ligação Lisboa-Monte Caparica nos meus tempos de faculdade.
As juntas empenaram com a hormonoterapia. Diz que é normal. Estou prestes a dormir com uma lata de WD 40 na mesa de cabeceira para colocar nos joelhos e mãos, logo pela manhã.
Pelo menos o motor está bom e tudo indica que os malvados cancros descansam no caixote do lixo para nunca mais voltarem.
As revisões antecedem-se sempre de um nervoso que vai do miudinho ao mais graúdo que o bacalhau dos mares do norte. Na nossa cabeça haverá sempre algo para nos deixar alerta. O cancro quando de apespega é muito difícil de descolar. Qualquer dor, inchaço ou prurido são motivos para soar a campainha vermelha na nossa mente. Alerta! Alerta! O cancro voltou! (Não voltou nada!) Lá no fundo sabemos. Mas ficamos formatadas para o alerta. Nada a fazer senão aprender a viver com este novo cérebro, formatado para "panicar" por tudo e por nada. A ser, que seja por nada.
Daqui a três meses volto à revisão. Espero nessa ter direito a tratamento completo. É que não me quero arriscar a chumbar na inspecção 😳.

Texto alt automático indisponível.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Insónia

in·só·ni·a 
substantivo feminino
Ausência ou falta de sono = ASSONIA (Dicionário priberam)

Sempre tive muito jeito para dormir.
Era rapariga para me encostar em qualquer cantinho, aconchegar-me como pudesse e fechar os olhos para rapidamente cair em sono profundo.
Era aquela pessoa que nunca sentia os terramotos a meio da noite nem ouvia as trovoadas. Podia acabar o mundo. Eu havia de dar por isso quando acordasse.
O cancro trouxe uma nova palavra ás minhas noites. Insónia.
Não durmo quando penso de mais. Quando penso de menos. Quando não penso de todo. Quando estou feliz. Quando estou triste. Quando estou preocupada. Quando estou revoltada. Quando estou cansada. Quando estou cheia de energia. Quando estou esgotada. Quando como de mais. Quando como de menos. Quando tenho sono. Quando não tenho. Quando conto carneiros. Ou vacas. Ou rinocerontes.
Ó cancro, faz menos barulho que eu quero dormir!


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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Oooops

Dizem que depois da quimioterapia mesmo o cabelo mais escorrido nasce cheio de caracóis.

Dizem.

Eu já sonhava com a minha bela afro. Linda, cheia de caracóis bem apertadinhos e loira. Ia ser um sucesso!

Mas o meu cabelo tinha que ser do contra (ou não fosse ele meu)!

Nasceu liso. Escorrido. Tal como era antes.

Quando começou a nascer inspeccionei cada fio se cabelo em busca dos meus lindos canudos. Certo dia pensei até ver um caracol espreitando timidamente na minha nuca. Ah alegriaa!!! Falso alarme! Era só um mau jeito. 😒

Então, em vez de uma afro linda e maravilhosa, tenho um lindo capacete que me dá um look entre o Playmobil e o Pin & Pon. Ao acordar levo tempos intermináveis a domar cada madeixa que insiste em ficar com as formas da almofada. E por mais voltas que lhe dê continuo a parecer um Playmobil.

Ontem chateou-me! Uns tufos na nuca teimavam em dar-me um ar de Futre na década de 80. Os malvados tufos desafiavam-me com o seu ar de gozo de cabelo que não vai ao sítio: "hahahaha, tenta lá dar-nos um ar composto, tenta!!"

Irritei-me! Peguei na tesoura e pufas! Tomem lá, ó tufos! Já eram!

Convencida que a minha técnica de cabeleireiro tinha sido perfeita (afinal de contas corto o cabelo à miúda e a coisa nem fica má), mostrei orgulhosa ao marido a minha obra prima. Os tufos foram-se! Malvados jazem agora no caixote do lixo, onde merecem estar depois de me terem desafiado!

Eu: "Está perfeito, não está?"
Marido: "Quem é que te fez isso?"
Eu (com ar orgulhoso): "Fui eu"
Marido: "Hmmmm, talvez seja melhor amanhã ires ao cabeleireiro."

Ooopps! Hoje vou ao cabeleireiro. 😳




quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Há coisas que sabem a quimioterapia.


A Ana antes do cancro adorava beterraba. Nada me fazia mais feliz que uma bela sopinha de beterraba ou uma salada salpicada de rosa por este alimento maravilhoso. 


Mas depois veio a quimioterapia. A beterraba é fantástica para quem está em tratamento de quimioterapia pois, por ser rica em Ferro, Potássio, Ácido Fólico, Magnésio e vitaminas, ajuda o nosso corpo a fortalecer o sistema imunitário e a prevenir a anemia. 

Ora, tendo em conta que a quimioterapia nos trás neutropenias, trombocitopenias, anemias e outras coisas acabadas em "ias", é uma boa ideia munir o nosso corpinho com todas as armas à disposição. 

E assim foi. Durante seis meses a beterraba foi uma amiga presente diariamente. Fiz sumos, saladas, sopas e gratinados. Comi beterraba crua, cozida, salteada e triturada. Até não poder ver tal criatura, que até então tanto me era querida. 

Hoje foi a primeira vez que voltei a comer beterraba. Porque é importante continuar a tratar do corpo que ainda sucumbe a uma série de efeitos secundários dos tratamentos. 

E sabem que mais? Não foi bom. 

Foi como entrar na máquina do tempo. Só não me caiu o cabelo! Estou mal disposta qual Perú etilizado na véspera de Natal (mas sem a parte divertida da bebedeira). A beterraba afinal sabe a quimioterapia. 

Náuseada mas saudável é o mote do dia! 

Haja alegria! 😉

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Virar a página...


Era tão bom que o fim dos tratamentos fosse o mesmo que terminar um livro. Viramos a última página, lemos as últimas palavras. Fechamos o livro, guardamos na prateleira e começamos um livro novo. 


Na mente ficam apenas as memórias (por vezes um pouco toldadas pelo tempo) daquela história que se leu. Por vezes fica até uma vontade de a voltar a ler. Que bom era que esta história também fosse assim.

Só esta semana arranquei do espelho da casa de banho as instruções sobre a medicação a tomar durante a quimioterapia. Quimioterapia que terminou há já mais de seis meses. 

Curiosamente retirar aquele papel do espelho não me deu um gozo especial. Durante todos estes meses ali esteve sem utilidade alguma, mas sem que eu sentisse alguma urgência em tira-lo dali. Sem que a sua viagem até ao lixo me desse o conforto de que esta história ficasse arrumada no passado. 

Talvez porque sinto no meu íntimo que o cancro nunca vai ser conjugado no passado. Sei que o cancro será sempre palavra presente e que o meu coração irá saltar do peito ao mínimo sinal de alarme. 

Será sempre presente pelo medo que ele volte sem ser convidado (já da primeira não o foi e teve a lata de trazer um amigo! O gajo é atrevido e não se lhe pode dar a mão que ele quer logo o braço). 

Será sempre presente porque infelizmente o cancro de mama às vezes gosta de voltar. Às vezes gosta de fintar as estatísticas. E que chatice é não podermos escolher em que grupo das estatísticas queremos ficar. 

Será sempre presente pelas dores no corpo que teimam em piorar a cada mês que passa. 

Sempre presente pela menopausa mais que precoce que faz com que tanto ande a saltar de alegria como de fúria por razão que a própria razão desconhece. 

Sempre presente pelas marcas que deixou eternizadas no corpo e na alma.

Para quem assiste ao cancro do outro lado do espelho este é um estado difícil de entender. A imortalidade do cancro não me impede de sorrir, brincar e ser feliz. Porém, a vontade de sorrir, brincar e ser feliz não me impede de ter medo.

Sei que conjugarei para sempre o cancro no presente, mesmo que ele fique para sempre no passado. Nas entrelinhas vou escrevendo, capítulo a capítulo, uma história cheia de sorrisos e momentos felizes.


segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Dia Nacional da Prevenção do Cancro de Mama

Hoje é o dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama.
E o projecto Dez e Trinta e Cinco decidiu marcar este dia partilhando os números e factos sobre esta doença, convidando-me a partilhar um pouco mais sobre mim e a minha vivência com o cancro.
Obrigada pelo carinho e por quererem fazer parte da divulgação para a prevenção!

Podem ler o artigo completo e entrevista AQUI

domingo, 29 de outubro de 2017

Vamos ajudar a curar

Porque a investigação científica apenas é possível havendo amostras de dadores saudáveis e portadores de doença, o iMM está a lançar o pedido de doação voluntária de amostras de sangue a todos os eventuais interessados.
Com esta doação poderemos contribuir para o avanço do conhecimento científico e ter um papel activo em descobertas que poderão trazer avanços importantes em medicina e melhorar a qualidade de vida de todos.
Toda a informação necessária AQUI

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Só eu seeeeiiiii, porque não fico em casaaaaa!


Ontem foi dia de ir à bola. Havia já pelo menos dois anos que não punha os pés no estádio de Alvalade. Simplesmente porque, entre ser mãe e ter um cancro, perdeu-se este ritual de bem acompanhada pelo marido ir libertar o stress para o estádio e aproveitar o pretexto para umas bifanas e imperiais (pouco saudável, eu sei! Mas faz parte!).


Mas ontem foi tão diferente. Ontem fui ao estádio independentemente de clubes e vencedores. Fui ao estádio pois fui afortunada com a oportunidade de poder participar numa fantástica iniciativa de sensibilização para a prevenção precoce do cancro de mama.

O Sporting decidiu não ficar na plateia a ver o Outubro Rosa passar e decidiu criar uma Onda Rosa, conseguindo fazer chegar tão mais longe a voz de quem quer lançar este alerta.

No jogo de ontem entraram em campo com os jogadores 22 mulheres que lutam contra o cancro de mama. Mulheres que, como foi anunciado à sua entrada, são exemplos de Esforço, Dedicação de Devoção para travarem esta batalha contra o cancro. 

E eu tive a sorte de poder ser uma destas 22 mulheres!

22 mulheres que envergaram com orgulho camisolas contendo a mensagem que querem passar ao mundo: PREVENIR É A MELHOR JOGADA. Porque todas sabemos que o diagóstico precoce continua a ser a maior arma contra esta doença. 

Para além disso os jogadores do Sporting usaram uma camisola exclusiva, contendo o laço rosa que representa a luta contra o cancro de mama. Estas camisolas serão vendidas e a receita reverterá integralmente para a Associação Amigas do Peito, uma associação humanitária de apoio à mulher com cancro de mama. 

Mas ainda há mais!! Fantástico,não é? Até 31 de Outubro todas as sócias do Sporting poderão fazer gratuitamente uma consulta de diagnóstico precoce nos hospitais e clínicas CUF de Alvalade, Descobertas, Infante Santo, Porto e Viseu (mais informações disponíveis no website da CUF ou entrando em contacto com uma destas unidades de saúde). Vamos lá aproveitar e colocar esses exames de rotina em dia!!

Obrigada Sporting por esta iniciativa tão louvável! Obrigada por terem a consciência social de que a vossa visibilidade pode fazer tanta diferença na luta contra o cancro. 

Obrigada Sporting por nos ajudar a relembrar que PREVENIR É A MELHOR JOGADA.



quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Hoje é o Dia Mundial do Cancro da Mama.

Hoje assinala-se o Dia Mundial do Cancro da Mama.
"Em Portugal estima-se que uma em cada 10 mulheres vá ter um cancro da mama ao longo da vida. (...) Em Portugal o cancro da mama é o cancro da mulher com maior taxa de incidência (o número de novos casos por ano). Calcula-se que anualmente surjam cerca de 5000 novos casos e que esta incidência tenda a aumentar nas próximas décadas." (Fonte: Mama Help )
Pelo segundo ano Outubro é para mim um mês diferente daquilo que foi até então. Desde 2016 que faço parte das estatísticas.
E, apesar de não ser razão para alegrias nem festanças, alguém achou que esta efeméride deveria ser comemorada. É que afinal de contas faço parte das estatísticas mas estou cá para contar a história. Faço parte das estatísticas de quem deu um pontapé ao bicho!
E por isso recebi um miminho muito especial que me vai sempre lembrar que foi em 2017 que venci esta batalha (e que lutei sempre bem acompanhada)! 💗





segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Não acredit(ava) na Psicologia

Não acredito na psicologia.
Foi com esta frase que comecei as minhas consultas de psicologia. Afinal de contas não devemos mentir.
Realmente nunca acreditei muito na psicologia clínica como ferramenta de apoio. Sempre achei que, ou o caso era grave e se resolvia com drogas daquelas da pesada, ou então mais valia pagar um copo a uns amigos.
Sempre tive um certo pedantismo intelectual que me impedia de reconhecer que fazia sentido estar com alguém que não iria fazer mais que debitar teorias que eu podia perfeitamente ler em qualquer livro da secção de “psicocenas” de uma qualquer livraria.
Mas a certo ponto do processo achei que precisava de ajuda. Aliás, a minha médica oncologista achou que eu precisava de ajuda e eu concordei. E como beber copos com amigos todos os dias é coisa para acabar em cirrose certa (e o meu fígado levou tanta tareia que tenho medo que decida fazer as malas e desistir de viver no meu corpo) lá acedi em consultar um psicólogo.
Então e que tal correu? Correu mal!
Dei por mim num consultório com o aspecto irritante de ter acabado de ser alvo da intervenção do “Querido mudei a casa”. À minha frente alguém que durante uma hora discursou sobre… sobre… olhem, não sei! O tom de voz monocórdico e paternalista, o discurso que balançou entre a psicologia e o esoterismo e as socas com tachas dispersaram-me demasiado. Sim, desculpem-me qualquer coisinha, mas socas com tachas ultrapassam o meu limite de tolerância sobre a credibilidade de alguém baseada no tipo de calçado (Sim, tenho toda uma teoria sobre o assunto. Isso e cores de verniz. Sou uma mulher de teorias, nada a fazer quanto a isso!).
Voltei a desistir da psicologia. Até porque eu sou muita forte a dou conta disto na boa. Manda vir mais uma rodada de minis!
Até que o fim do tratamento começou a aproximar-se. E toda aquela névoa que se formou enquanto estava focada em lutar pela sobrevivência, que me protegeu dos meus próprios pensamentos, começou a dissipar-se. E em vez do D. Sebastião foram os fantasmas que saltaram do meio da neblina.
BUUUUU!
E agora? Eu até já tinha lido sobre o assunto. É stress pós-traumático. Tipo aquele que acontece aos militares quando regressam de cenários de guerra. Onde é que está o livro com as regras para dar cabo destes fantasmas? Deve estar esgotado, bolas!
E como era assustadora a opção de ficar encharcada em psicotrópicos que me iriam transformar numa pequena zombie (feliz, mas a babar por todo o lado), decidi dar mais uma hipótese à psicologia.
“Boa tarde. Eu sou a Ana, no último ano o meu corpo decidiu começar a brotar cancros aqui e ali e estou um bocado à rasca. Ah, é verdade. Não acredito na psicologia.”
E do outro lado recebi um sorriso. Juntamente com a curiosidade de perceber porquê. E no fim dessa consulta comecei a acreditar na psicologia. E voltei para mais consultas (inacreditável, não é??). Percebi que tenho agora alguém que me vai comigo espreitar debaixo da cama à procura dos monstros escondidos e vai ensinar-me como enxotá-los (à vassourada se assim tiver que ser).
Olha, afinal até acredito na psicologia.
Mas não julguem os mais esperançosos que vou perder o meu toque de insanidade! Se a minha cabecita já era um tanto mal acabada, depois da quimioterapia já não há volta a dar.
E, pelo sim pelo não, por enquanto acho não vou mostrar à minha psicóloga as fotos do meu telemóvel. Aquelas que tiro quando estou aborrecida pela casa e ando a inventar coisas para me entreter (como se não as tivesse!) e evitar pensar (como se conseguisse!).
Essas por enquanto ficam para mim. Não vá a psicóloga achar que sou meio louca e, agora que eu acredito na psicologia, ser ela que deixa de acreditar! 


Coisas que se fazem em casa para manter a mente ocupada. :)


quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Outubro Rosa, mês de marcar exames de rotina

E estamos no mês de Outubro.

Outubro rosa.

Mês da consciencialização para o cancro da mama.

O mês em que faz um ano em que eu senti na pele que o cancro de mama não acontece só aos outros.
Por isso este mês lanço o desafio a todas as mulheres e a todos os homens que estejam atentos ao seu corpo não só este mês mas todos os meses do ano, todos os dias do mês.

Pouco interessa que não haja historial familiar, que tenhamos hábitos saudáveis ou que sejamos muito novas para ter cancro. O cancro é uma realidade e a nossa maior arma é a prevenção.

Façam os vossos exames de rotina. Não tenham medo de ir ao médico quando sentirem que algo não está bem. Não tenham medo de receber más notícias. As más notícias magoam mas não matam. O medo pode matar.

E hoje, no dia 11 do Outubro Rosa partilho este fantástico vídeo (autoria da wisdo.com). Para mostrar que o cancro de mama não escolhe idades nem sexo. O cancro da mama não discrimina e não acontece só aos outros.

Hoje é um bom dia para marcar aquela consulta de rotina.

https://www.facebook.com/wearewisdo/videos/1010045722471338/

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Inquérito da Sociedade Portuguesa de Oncologia: Cuidados de saúde em Oncologia. A visão do doente.

A Sociedade Portuguesa de Oncologia organizou um inquérito sobre a visão do doente nos cuidados de saúde em oncologia.

A participação de todos os doentes oncológicos é muito importante pois irá permitir perceber como os doentes sentem os cuidados de saúde que têm disponíveis, permitindo a implementação de medidas sempre com vista ao bem estar do doente oncológico.

Toca a responder!

O inquérito está disponível em: www.inqueritooncologia.PT


(Imagem: Sociedade Portuguesa de Oncologia)
 


quinta-feira, 28 de setembro de 2017

As crianças são o melhor do mundo.

E claro que, ignorando a total ausência de imparcialidade na minha opinião, lá por casa temos uma criança que consegue superar o melhor que há no mundo. 😊

Para ela este foi um ano normal. Não aconteceu nada demais. Nada que mereça especial preocupação.

Houve um dia em que a mãe e o pai trocaram de papéis e foi o pai que cortou o cabelo à mãe. Ficou bem curtinho. Fizemos uma grande festa e passado umas horas apenas olhou para mim, fez-me uma festinha na cabeça e disse com a sinceridade que só uma criança sabe ter: "Mamã, estás munita!" 

Uma cabeça careca desperta um fascínio e um impulso para festinhas. Quantas vezes vimos o Frozen aconchegadas no sofá enquanto ela me esfregava a carequita em estado de quase hipnose. Também um ou outro amiguinho na escola, daqueles mais afoitos, volta e meia vinha discretamente passar a mão na minha careca. Só para ver como era.

A careca também nunca foi empecilho para as brincadeiras em frente ao toucador piroso de princesa. Sempre tive direito a tratamento completo. Escovagem (aiiii, e o que dói uma escova de princesa a passar pelo couro cabeludo despido), secagem e ganchos (que na ausência de cabelo para prender eram empilhados com perícia no topo da minha cabeça).

Com as operações o dói dói tornou-se algo mais visível. As cicatrizes eram alvo de inspecção diária. Não por preocupação sobre o seu estado mas só para confirmar que não estava a aldrabar quando lhe dizia que não a podia carregar ao colo. Agora é a minha maior ajudante e todas as noites me lembra que tenho que pôr creme nas maminhas e comer o comprimido.

Esta semana íamos na rua quando passámos por um cão que envergava um colar Isabelino (vulgarmente conhecido como abat-jour ou funil). Sendo uma novidade para ela perguntou-me: "O que é aquilo que o cãozinho tem na cabeça?". Expliquei "O cão tem um dói dói e tem que usar aquele funil para ficar bom. Para não ir coçar nem lamber a ferida".

Os olhinhos dela brilharam. Apontou para a minha cicatriz da tiroidectomia e exclamou com o entusiasmo de quem partilha uma ideia brilhante: "Boa mãe! Tu também podes usar um!! Por causa do teu dói dói!!"

Minha rica filha! Obrigada por mais uma vez me fazeres rir e seres a minha fonte inesgotável de boa energia. Mas como o seguro morreu de velho, pelo sim pelo não vou dando uma vista de olhos pelos lares de idosos da zona. É que com esta cabecita brilhante ainda acabo a velhice no hotel canino com direito a ração e tosquias semanais. 


(Imagem: Disney/Pixar)

😬

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Memórias

O Facebook adora memórias. Hoje mais uma vez decidiu mostrar-me o que andava eu a fazer há exactamente um ano atrás.

Há exactamente um ano atrás tinha voltado às pistas. Parece profissional, não é? Não, não é! Significa apenas que, após um mais ou menos longo interregno, tinha voltado a ser capaz de terminar uma prova de 10 Km. Meio correndo, meio andando, meio me arrastando.

Há exactamente um ano atrás a palavra cancro ainda era apenas uma sombra que pairava sobre a minha cabeça. Só cinco dias depois tive a confirmação de que seria uma palavra que vinha para se instalar no meu vocabulário quotidiano.

Há exactamente um ano atrás completei aqueles 10 Km meio em jeito de promessa, como quem prova ao seu corpo que afinal está tudo bem. “Vês, tu não podes ter cancro! Então até és capaz de correr 10 Km. Corres devagarinho, eu sei, mas se tivesses cancro não eras capaz.”.

Há exactamente um ano atrás prometi, a cada Km que passava, que não ia desistir. Cheguei à meta com a sensação de dever cumprido e recebi com orgulho a minha medalha.

Hoje, exactamente um ano depois, por coincidência ou não, foi dia de atravessar de novo a meta. Hoje foi dia da derradeira “consulta de fim de tratamento”.

Hoje, exactamente um ano depois, atravessei esta meta com um misto de orgulho e receio. “Agora vamos soltá-la devagarinho”, explicou o médico. Começa a ser vista de 3 em 3 meses, depois de 6 em 6 e quando der por isso só tem que cá vir uma vez por ano.

Boa!!! Boa??? Se por um lado é com orgulho e alívio que oiço que chegou ao fim, que fui capaz de lutar contra a vontade de desistir a cada novo tratamento, que apesar das mazelas que ainda se sentem (e vão sentir por algum tempo) o pior já passou, por outro lado é assustador sentir-me a ficar sem rede.

Hoje, exactamente um ano depois, é tempo de arrumar a cabeça. Tempo de fazer a trouxa e seguir em frente. E apesar de saber que a palavra cancro se instalou para sempre, que veio para ficar, de hoje em diante conto que existam breves momentos em que consiga esquecer-me dela. Nem que seja na próxima vez em que me aventure e regresse às pistas. E se se cruzarem comigo acompanhem-me até à meta, mesmo que vos apeteça desistir a cada Km.


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Hoje é dia da gratidão

Dizem os doutos amigos das manhãs da comercial que hoje é o dia da gratidão.
Tem sido um ano manhoso...37 anos, dois cancros, cinco meses de quimioterapia, duas cirurgias, 25 sessões de solário (oops, radioterapia), injecções com a seringa das farturas e comprimidos para me tornar uma mulher ressequida e amarga no auge da minha menopausa.
O que há a agradecer? TANTO!!!
Grata!
Grata por me ter cruzado com tantos excelentes profissionais que se dedicaram a livrar-me do mal (sem Amém) e a fazer com que esta caminhada interminável fosse o menos dura possível , dentro da sua dureza inerente. Por me ter aguentado à bronca e ter tido a capacidade de me manter firme. Por não ter perdido a capacidade de rir disto tudo.
Grata!
Por um marido que esteve e está sempre ao meu lado. Que me fez rir à gargalhada durante as sessões de quimioterapia. Que me comprou o último livro de "Uma Aventura" quando me queixei da inaptidão dos meus neurónios em concentrarem-se na leitura.
Por uma filha que, entre birras, é a melhor do mundo. Que sempre me disse que eu estava linda e que gostava de fazer festinhas na minha careca. Que no auge dos seus três anos todas as noites me vem trazer a embalagem de Biafine e me diz em tom de aviso: "mamã, ainda não puseste o "cremo" nas maminhas" 😍
Grata!
Pelos amigos que estiveram sempre cá. Que ajudaram a preparar festas de aniversário surpresa. Que trazem o almoço para estarmos juntos ou que convidam para uns programas com a criançada. Que cuidaram da minha filha como ninguém. Que passam horas ao telefone a contar-me o que acontece no mundo das pessoas sem cancro. As amigas que me acompanham em confidências em torno de um Mojito (ou três ou quatro.... mas é segredo!). Às novas amizades com quem o tempo de um café parece sempre pouco porque há tanto para conversar. Como se nos conhecêssemos uma vida toda.
Grata!
À senhora que me abordou para dizer que da minha careca podiam vir a sair caracóis (de cabelo, não o bicho. Isso era esquisito). Quis partilhar que foi o que lhe aconteceu quando ela teve cancro há muitos muitos anos. À senhora que ontem me espetou duas beijocas só porque a deixei levar os pacotes de açúcar do galão para a colecção da neta. Aos castiços do café do bairro que, no seu pouco jeito para se mostrarem preocupados, acabam sempre a contar histórias de quem não sobreviveu ao cancro (ai, menina..isso volta sempre. Não vê aquele da televisão e a outra que não me lembro o nome!). É mesmo só falta de jeito para verbalizar uma preocupação que sei ser verdadeira.
Grata!
A todos os outros. Àquelas pessoas desagradáveis. Aos que apitam no trânsito. Aos que resmungam por tudo e por nada. Grata por me fazerem ver que eu não quero ser assim. A vida é curta e há que sorrir-lhe!
E finalmente, para os senhores que comandam o universo, fica mais uma vez o recado. Eu agora ficava era mesmo grata por ter um bocadinho de descanso. Combinado?

(Imagem: Radio Comercial)


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Quebrar a corrente e criar uma nova

💓

Não se assustem!! Não estou a entrar na onda das correntes de mensagens.
Normalmente quando estas correntes têm como destino a minha caixa de entrada são recebidas com um enorme silêncio e indiferença.
Porém, esta semana recebi mais que uma vez uma mensagem à qual não posso ficar indiferente. Nem tão pouco me chateou pois, apesar de incorrecta, é mais uma desculpa para que se fale no bicho papão: o cancro.
Este mês é o mês de sensibilização do cancro ginecológico, cancro do ovário e cancro infantil. O mês de sensibilização para o cancro de mama será apenas em Outubro, temos tempo.
O cancro da mama, por ser mais comum, por estar mais vezes presente à nossa volta, acaba por se tornar o protagonista desta grande família de vilões de seu nome cancro.
Mas importante importante é que se fale de CANCRO. Que se alerte para a importância do rastreio precoce e de não andar a adiar aqueles exames que nos podem salvar a vida (talvez se os tivesse adiado não estivesse aqui a contar a minha história).
Conhecer e estar alerta aos sinais de alarme. E falamos em mama, ovários, vagina e útero, próstata, cólon, estômago e todas a miudezas que vivem dentro do nosso corpinho, ok? (Vá, as meninas podem relaxar no que diz respeito à próstata).
E aqui vai mais um coração para vos incentivar a ligar para o médico e marcar os vossos exames. 💓

(Imagem: Choose Hope)

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Alimentação e suplementos durante os tratamentos

Ao longo do caminho fui percebendo que muita gente desconhecia que durante o tratamento não devemos tomar NADA sem autorização do médico assistente.
E por nada entenda-se mesmo nada! A ausência de seja o que for, seja natural sintético ou assim assim (e pronto, o momento em que uso citações dos Malucos do Riso marca o bater no fundo!).
Principalmente quando falamos em produtos e suplementos naturais há sempre um sentimento de que são inócuos e "mal não hão de fazer". Porém, estes suplementos e alguns alimentos consumidos em excesso podem prejudicar o efeito dos tratamentos, diminuindo a sua eficácia.
E ninguém quer andar a meter químicos para a veia ou andar no solário do Homem Radioactivo, levar com os efeitos secundários todos (começando na carequice, passando pelos vómitos, cansaço, dores e algum grau de senilidade que espero que seja reversivel 😜) para no fim a coisa não resultar tão eficazmente como devia.
A sapo lifestyle, com auxílio de André Dourado (naturopata do centro Mama Help) e Maria João Cardoso (cirurgiã da Fundação Champalimaud e presidente do centro Mama Help) elaborou este artigo contendo informação muito útil sobre este tema para quem está ou vai fazer tratamentos de quimioterapia e radioterapia.

Podem ler o artigo completo AQUI.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Aos enfermeiros.

Aqueles que nos seguem sempre de perto. Que sabem o nosso nome, o dos nossos filhos e a nossa comida preferida.
Aqueles que têm sempre disponibilidade para rir connosco e também para nos ver chorar. Para ouvir as nossas histórias e as dos outros 30 pacientes a quem prestaram cuidados nesse dia.
Que mesmo cansados (porque é impossível que não estejam) ainda têm ouvidos para as histórias das gracinhas da nossa filha e de como continua a não querer dormir e ombros disponíveis para ouvir o quão esgotadas estamos de todos estes tratamentos.
Porque os enfermeiros foram sem dúvida um dos pilares que contribuiu para que me mantivesse firme durante todo este processo.
Porque temos sempre um sorriso rasgado para a troca quando nos encontramos (mesmo que seja no hospital de dia, com o cheiro nauseabundo da quimioterapia como fundo, e prestes a levar mais uma "injecção do demo").
Obrigada a todos os enfermeiros que se cruzaram no meu caminho. O vosso trabalho merece todo o reconhecimento.


terça-feira, 29 de agosto de 2017

Fechou-se um ciclo

Hoje foi o último tratamento de radioterapia. O último tratamento do protocolo estabelecido para expulsar o cancro que se instalou sem ser convidado.

Hoje fechou-se um ciclo. Pelo sim pelo não vou trancá-lo num sítio de onde não fuja. Fechar bem a porta do passado e deitar a chave ao mar.

Been there, done that. Já chega!

Foram exactamente 10 meses e 2 dias de tratamentos intensivos. 10 meses e 2 dias que se multiplicaram e tantas vezes me pareceram anos.

Foram meses duros. Apesar das palhaçadas e brincadeiras que tantas vezes fizeram o corpo esquecer-se que doía, que quase o enganavam a achar que estava tudo bem.

E a cabeça foi tantas vezes buscar aquela frase, grafitada de fugida nos tapumes das obras do Chiado, pela qual passei durante meses a fio, a caminho das aulas de piano: "Estamos enterrados na merda, mas estamos vivos...".

Podia ser mais poético? Podia! Mas foi o meu cérebro que escolheu. Que achou que era a que mais se adequava àqueles dias maus. Que aquelas frases bonitas e inspiradoras que surgem ao quilo na internet não serviam para o que se passava no meu corpo. Ele lá sabe!

A quem ainda vem a caminho da meta, a iniciar ou algures no percurso dos tratamentos, digo-vos deste futuro paralelo que a meta está mesmo cá. Eu também duvidei da sua existência. Achei que ia correr e correr e nunca ia cá chegar. Mas agora aqui vos espero com a bandeirola a acenar à vossa passagem!

E como uma imagem vale mais que mil palavras, ficam as imagens e recordações de 10 meses e 2 dias que parecem ter sido anos.

Que venha o próximo capítulo!




terça-feira, 22 de agosto de 2017

Sobre a condição de doente oncológico no mercado de trabalho

"(Em vez de descriminar, despromover e retirar tarefas, o empregador ) antes tem o dever de adoptar um conjunto de medidas de adaptação das condições de trabalho para que sejam ajustadas à particularidade destes trabalhadores. Podem ser coisas simples e muitas vezes nem custam dinheiro: trocar funções, ajustar horários, pôr o trabalhador numa sala mais clean..."
Na minha opinião, para que tal se torne uma realidade, é necessário em primeiro lugar haver uma consciencialização geral dos efeitos que os tratamentos têm num doente oncológico (tantas vezes de modo permanente). Pelas vezes que me dizem: "estás com tão bom aspecto" (e agradeço o elogio), percebo que é complicado para terceiros compreenderem o mau estar e limitações que o doente oncológico continua a sentir mesmo após finalizar os tratamentos (que podem ir desde os problemas articulares e de mobilidade, a deficiências de imunidade, problemas cardíacos, de concentração...). Este desconhecimento pode muitas vezes levar à má interpretação das suas limitações como uma mera preguiça ou falta de vontade. 


É por isso tão importante a "educação" para a compreensão do que realmente significa e implica ser um doente oncológico e de que, mesmo sem recidivas da doença, este será doente oncológico para sempre.



P.S. podem continuar a dizer-me que tenho bom aspecto, que um elogio cai sempre bem! 

A ler aqui a entrevista sobre a discriminação do doente oncológico no mercado de trabalho com a investigadora Milena Rouxinol no jornal Público. 

😉

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Não é Natal, não é Natal (mas é como se fosse)

Mulher de 37 anos entra numa loja. Olha em volta e os seus olhos brilham ao ver ao longe algo que lhe parece ser o objecto há tanto desejado. 

É mesmo!!! Saltinhos de alegria! Grita pelo marido: "Olha, olha o que eu encontrei!!!". Ele acena sorrindo como quem diz: "Boa, era mesmo o que tu querias. Podes levar!"

Antes de dia 30 de Setembro de 2016 esta seria uma cena muito provavelmente passada numa sapataria. Os meus olhos brilhariam. Eram mesmo os sapatos que "preciso". O marido acenaria com um revirar de olhos: "Outros?? Vá, leva lá..."

Mas em Agosto de 2017 esta alegria deu-se ao encontrar a caixa de comprimidos perfeita! Linda, com oito compartimentos onde posso colocar a medicação que tenho que tomar todos os dias (e ainda me sobra um onde posso acrescentar uns M&Ms para usar em casos de urgência). E ainda vem dentro de uma bolsinha de neoprene vermelha. Fofo, não é?

Nos últimos tempos, devido ao meu cérebro queimadinho pela quimioterapia e duas anestesias gerais, já tive por demasiadas vezes a sensação de que houve tomas de comprimidos a duplicar e outras que nunca chegaram a acontecer (não conseguindo nunca bater o recorde de "chemo brain" da amiga do coração que tomou por engano o comprimido de outro membro da família quando ela nem sequer toma medicação! Luv u! 💗).

E como com medicação não se brinca, sendo de extrema importância que tanto a suplementação tiroideia como a hormonoterapia sejam tomadas direitinho e na hora certa, penso que ter assim tudo organizadinho é a melhor solução. E se poder ser numa bolsinha toda gira em vez de uma caixa sem graça melhor ainda. 

Se isto fosse um blog da moda seria agora a altura do giveaway da semana em que eu ofereceria aos leitores uma mão cheia de bolsinhas iguais à minha em troca de uns likes na página e a referência a 20 amigos nos comentários. Como não é podem colocar likes à vontade e chamar todos os vossos amigos e família (que eu até gosto de ter quem leia os meus disparates) mas infelizmente, se quiserem uma bolsinha igual à minha, terão que ir a uma Loja do Gato Preto e comprar uma para vós. 

P.S. Marido, este post não significa que deixei de "precisar" daqueles All Star amarelos, ok?

P.S.II. ... e dos Palladium. 







segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Vai-te embora ó papão

Insónia.

Palavra que até então não fazia parte do meu dicionário. 

Se há coisa em que sempre fui muito boa foi a dormir. Fosse em casa ou fora dela, na cama ou no sofá (ou, se as circunstâncias assim o ditassem, até no chão). Se o corpo achasse que era hora de dormir bastava aconchegar-me, fechar os olhinhos e aí ia eu para o mundo do algodão doce!

Depois veio a maternidade. Aí não perdi a capacidade de dormir. Arranjei foi alguém que veio pôr à prova a minha capacidade de viver sem dormir. Mas mesmo assim tantas vezes amamentei, mudei fraldas, embalei e cantei o "vai-te embora ó papão" em piloto automático, enquanto o meu cérebro continuava no seu ó ó. 

Depois veio o cancro. Primeiro achei que era do choque. Depois achei que era da quimioterapia. Depois seria da operação, do desconforto e de ter dormir sempre de barriga para cima. Agora será concerteza da radioterapia. Ou dos comprimidos. Ou dos macaquinhos no meu sotão que teimam em fazer tertúlias ás 4 da manhã. 

Às vezes acordo só porque sim. Outras acordo porque lá vem mais um afrontamento com os seus  suores e calores tropicais. Depois porque passa e fico cheia de frio. Ou porque a filha acorda a chamar por mim (ou, na modalidade mais recente, a chamar pela chucha. Só que a malvada deve ser surda e teima em não ir sozinha, por isso lá vou eu na mesma). Ou porque o cão do vizinho ladrou. Ou porque passou uma mosca e, quando tudo está em silêncio, aquelas asinhas turbinadas são tão ruidosas quanto a passagem de um F16 em velocidade limite. 

E depois de acordar já não há nada a fazer. Já está. Agora é até de manhã. 

E se por um lado é bom pois os dias tornam-se mais longos, por outro é tão mau pois os dias tornam-se tão mais longooooooossssssssss. E o cérebro já de si entorpecido fica ainda mais inapto. 

Vai-te embora ó papão (que entre o telhado e a minha casa ainda são uns quatro andares e ainda te aleijas!)