Insónia.
Palavra que até então não fazia parte do meu dicionário.
Se há coisa em que sempre fui muito boa foi a dormir. Fosse em casa ou fora dela, na cama ou no sofá (ou, se as circunstâncias assim o ditassem, até no chão). Se o corpo achasse que era hora de dormir bastava aconchegar-me, fechar os olhinhos e aí ia eu para o mundo do algodão doce!
Depois veio a maternidade. Aí não perdi a capacidade de dormir. Arranjei foi alguém que veio pôr à prova a minha capacidade de viver sem dormir. Mas mesmo assim tantas vezes amamentei, mudei fraldas, embalei e cantei o "vai-te embora ó papão" em piloto automático, enquanto o meu cérebro continuava no seu ó ó.
Depois veio o cancro. Primeiro achei que era do choque. Depois achei que era da quimioterapia. Depois seria da operação, do desconforto e de ter dormir sempre de barriga para cima. Agora será concerteza da radioterapia. Ou dos comprimidos. Ou dos macaquinhos no meu sotão que teimam em fazer tertúlias ás 4 da manhã.
Às vezes acordo só porque sim. Outras acordo porque lá vem mais um afrontamento com os seus suores e calores tropicais. Depois porque passa e fico cheia de frio. Ou porque a filha acorda a chamar por mim (ou, na modalidade mais recente, a chamar pela chucha. Só que a malvada deve ser surda e teima em não ir sozinha, por isso lá vou eu na mesma). Ou porque o cão do vizinho ladrou. Ou porque passou uma mosca e, quando tudo está em silêncio, aquelas asinhas turbinadas são tão ruidosas quanto a passagem de um F16 em velocidade limite.
E depois de acordar já não há nada a fazer. Já está. Agora é até de manhã.
E se por um lado é bom pois os dias tornam-se mais longos, por outro é tão mau pois os dias tornam-se tão mais longooooooossssssssss. E o cérebro já de si entorpecido fica ainda mais inapto.
Vai-te embora ó papão (que entre o telhado e a minha casa ainda são uns quatro andares e ainda te aleijas!)
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