quinta-feira, 30 de novembro de 2017

É a pura da loucura!

Adoro ir ao médico!
Saio sempre de lá cheia de planos e coisas para me ocupar, não vá a vida tornar-se algo entediante.
Desta vez, para além de análises e exames vim feliz com mais um comprimido diário. É que andava aflita sem nada que fazer a seguir ao almoço... 

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😒

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Revisão

Ontem foi dia da primeira revisão. A revisão dos 3 meses. Em tempo de gente. Em tempo de carro não sei. O meu conta quilómetros deu o berro há já um tempo.
Não me alinharam a direcção nem afinaram o motor. Foi uma pena. Ando mais desalinhada que as camionetas da Transportes Sul do Tejo que faziam a ligação Lisboa-Monte Caparica nos meus tempos de faculdade.
As juntas empenaram com a hormonoterapia. Diz que é normal. Estou prestes a dormir com uma lata de WD 40 na mesa de cabeceira para colocar nos joelhos e mãos, logo pela manhã.
Pelo menos o motor está bom e tudo indica que os malvados cancros descansam no caixote do lixo para nunca mais voltarem.
As revisões antecedem-se sempre de um nervoso que vai do miudinho ao mais graúdo que o bacalhau dos mares do norte. Na nossa cabeça haverá sempre algo para nos deixar alerta. O cancro quando de apespega é muito difícil de descolar. Qualquer dor, inchaço ou prurido são motivos para soar a campainha vermelha na nossa mente. Alerta! Alerta! O cancro voltou! (Não voltou nada!) Lá no fundo sabemos. Mas ficamos formatadas para o alerta. Nada a fazer senão aprender a viver com este novo cérebro, formatado para "panicar" por tudo e por nada. A ser, que seja por nada.
Daqui a três meses volto à revisão. Espero nessa ter direito a tratamento completo. É que não me quero arriscar a chumbar na inspecção 😳.

Texto alt automático indisponível.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Insónia

in·só·ni·a 
substantivo feminino
Ausência ou falta de sono = ASSONIA (Dicionário priberam)

Sempre tive muito jeito para dormir.
Era rapariga para me encostar em qualquer cantinho, aconchegar-me como pudesse e fechar os olhos para rapidamente cair em sono profundo.
Era aquela pessoa que nunca sentia os terramotos a meio da noite nem ouvia as trovoadas. Podia acabar o mundo. Eu havia de dar por isso quando acordasse.
O cancro trouxe uma nova palavra ás minhas noites. Insónia.
Não durmo quando penso de mais. Quando penso de menos. Quando não penso de todo. Quando estou feliz. Quando estou triste. Quando estou preocupada. Quando estou revoltada. Quando estou cansada. Quando estou cheia de energia. Quando estou esgotada. Quando como de mais. Quando como de menos. Quando tenho sono. Quando não tenho. Quando conto carneiros. Ou vacas. Ou rinocerontes.
Ó cancro, faz menos barulho que eu quero dormir!


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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Oooops

Dizem que depois da quimioterapia mesmo o cabelo mais escorrido nasce cheio de caracóis.

Dizem.

Eu já sonhava com a minha bela afro. Linda, cheia de caracóis bem apertadinhos e loira. Ia ser um sucesso!

Mas o meu cabelo tinha que ser do contra (ou não fosse ele meu)!

Nasceu liso. Escorrido. Tal como era antes.

Quando começou a nascer inspeccionei cada fio se cabelo em busca dos meus lindos canudos. Certo dia pensei até ver um caracol espreitando timidamente na minha nuca. Ah alegriaa!!! Falso alarme! Era só um mau jeito. 😒

Então, em vez de uma afro linda e maravilhosa, tenho um lindo capacete que me dá um look entre o Playmobil e o Pin & Pon. Ao acordar levo tempos intermináveis a domar cada madeixa que insiste em ficar com as formas da almofada. E por mais voltas que lhe dê continuo a parecer um Playmobil.

Ontem chateou-me! Uns tufos na nuca teimavam em dar-me um ar de Futre na década de 80. Os malvados tufos desafiavam-me com o seu ar de gozo de cabelo que não vai ao sítio: "hahahaha, tenta lá dar-nos um ar composto, tenta!!"

Irritei-me! Peguei na tesoura e pufas! Tomem lá, ó tufos! Já eram!

Convencida que a minha técnica de cabeleireiro tinha sido perfeita (afinal de contas corto o cabelo à miúda e a coisa nem fica má), mostrei orgulhosa ao marido a minha obra prima. Os tufos foram-se! Malvados jazem agora no caixote do lixo, onde merecem estar depois de me terem desafiado!

Eu: "Está perfeito, não está?"
Marido: "Quem é que te fez isso?"
Eu (com ar orgulhoso): "Fui eu"
Marido: "Hmmmm, talvez seja melhor amanhã ires ao cabeleireiro."

Ooopps! Hoje vou ao cabeleireiro. 😳




quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Há coisas que sabem a quimioterapia.


A Ana antes do cancro adorava beterraba. Nada me fazia mais feliz que uma bela sopinha de beterraba ou uma salada salpicada de rosa por este alimento maravilhoso. 


Mas depois veio a quimioterapia. A beterraba é fantástica para quem está em tratamento de quimioterapia pois, por ser rica em Ferro, Potássio, Ácido Fólico, Magnésio e vitaminas, ajuda o nosso corpo a fortalecer o sistema imunitário e a prevenir a anemia. 

Ora, tendo em conta que a quimioterapia nos trás neutropenias, trombocitopenias, anemias e outras coisas acabadas em "ias", é uma boa ideia munir o nosso corpinho com todas as armas à disposição. 

E assim foi. Durante seis meses a beterraba foi uma amiga presente diariamente. Fiz sumos, saladas, sopas e gratinados. Comi beterraba crua, cozida, salteada e triturada. Até não poder ver tal criatura, que até então tanto me era querida. 

Hoje foi a primeira vez que voltei a comer beterraba. Porque é importante continuar a tratar do corpo que ainda sucumbe a uma série de efeitos secundários dos tratamentos. 

E sabem que mais? Não foi bom. 

Foi como entrar na máquina do tempo. Só não me caiu o cabelo! Estou mal disposta qual Perú etilizado na véspera de Natal (mas sem a parte divertida da bebedeira). A beterraba afinal sabe a quimioterapia. 

Náuseada mas saudável é o mote do dia! 

Haja alegria! 😉

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Virar a página...


Era tão bom que o fim dos tratamentos fosse o mesmo que terminar um livro. Viramos a última página, lemos as últimas palavras. Fechamos o livro, guardamos na prateleira e começamos um livro novo. 


Na mente ficam apenas as memórias (por vezes um pouco toldadas pelo tempo) daquela história que se leu. Por vezes fica até uma vontade de a voltar a ler. Que bom era que esta história também fosse assim.

Só esta semana arranquei do espelho da casa de banho as instruções sobre a medicação a tomar durante a quimioterapia. Quimioterapia que terminou há já mais de seis meses. 

Curiosamente retirar aquele papel do espelho não me deu um gozo especial. Durante todos estes meses ali esteve sem utilidade alguma, mas sem que eu sentisse alguma urgência em tira-lo dali. Sem que a sua viagem até ao lixo me desse o conforto de que esta história ficasse arrumada no passado. 

Talvez porque sinto no meu íntimo que o cancro nunca vai ser conjugado no passado. Sei que o cancro será sempre palavra presente e que o meu coração irá saltar do peito ao mínimo sinal de alarme. 

Será sempre presente pelo medo que ele volte sem ser convidado (já da primeira não o foi e teve a lata de trazer um amigo! O gajo é atrevido e não se lhe pode dar a mão que ele quer logo o braço). 

Será sempre presente porque infelizmente o cancro de mama às vezes gosta de voltar. Às vezes gosta de fintar as estatísticas. E que chatice é não podermos escolher em que grupo das estatísticas queremos ficar. 

Será sempre presente pelas dores no corpo que teimam em piorar a cada mês que passa. 

Sempre presente pela menopausa mais que precoce que faz com que tanto ande a saltar de alegria como de fúria por razão que a própria razão desconhece. 

Sempre presente pelas marcas que deixou eternizadas no corpo e na alma.

Para quem assiste ao cancro do outro lado do espelho este é um estado difícil de entender. A imortalidade do cancro não me impede de sorrir, brincar e ser feliz. Porém, a vontade de sorrir, brincar e ser feliz não me impede de ter medo.

Sei que conjugarei para sempre o cancro no presente, mesmo que ele fique para sempre no passado. Nas entrelinhas vou escrevendo, capítulo a capítulo, uma história cheia de sorrisos e momentos felizes.