segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Memórias

O Facebook adora memórias. Hoje mais uma vez decidiu mostrar-me o que andava eu a fazer há exactamente um ano atrás.

Há exactamente um ano atrás tinha voltado às pistas. Parece profissional, não é? Não, não é! Significa apenas que, após um mais ou menos longo interregno, tinha voltado a ser capaz de terminar uma prova de 10 Km. Meio correndo, meio andando, meio me arrastando.

Há exactamente um ano atrás a palavra cancro ainda era apenas uma sombra que pairava sobre a minha cabeça. Só cinco dias depois tive a confirmação de que seria uma palavra que vinha para se instalar no meu vocabulário quotidiano.

Há exactamente um ano atrás completei aqueles 10 Km meio em jeito de promessa, como quem prova ao seu corpo que afinal está tudo bem. “Vês, tu não podes ter cancro! Então até és capaz de correr 10 Km. Corres devagarinho, eu sei, mas se tivesses cancro não eras capaz.”.

Há exactamente um ano atrás prometi, a cada Km que passava, que não ia desistir. Cheguei à meta com a sensação de dever cumprido e recebi com orgulho a minha medalha.

Hoje, exactamente um ano depois, por coincidência ou não, foi dia de atravessar de novo a meta. Hoje foi dia da derradeira “consulta de fim de tratamento”.

Hoje, exactamente um ano depois, atravessei esta meta com um misto de orgulho e receio. “Agora vamos soltá-la devagarinho”, explicou o médico. Começa a ser vista de 3 em 3 meses, depois de 6 em 6 e quando der por isso só tem que cá vir uma vez por ano.

Boa!!! Boa??? Se por um lado é com orgulho e alívio que oiço que chegou ao fim, que fui capaz de lutar contra a vontade de desistir a cada novo tratamento, que apesar das mazelas que ainda se sentem (e vão sentir por algum tempo) o pior já passou, por outro lado é assustador sentir-me a ficar sem rede.

Hoje, exactamente um ano depois, é tempo de arrumar a cabeça. Tempo de fazer a trouxa e seguir em frente. E apesar de saber que a palavra cancro se instalou para sempre, que veio para ficar, de hoje em diante conto que existam breves momentos em que consiga esquecer-me dela. Nem que seja na próxima vez em que me aventure e regresse às pistas. E se se cruzarem comigo acompanhem-me até à meta, mesmo que vos apeteça desistir a cada Km.


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