Hoje foi o último tratamento de radioterapia. O último tratamento do protocolo estabelecido para expulsar o cancro que se instalou sem ser convidado.
Hoje fechou-se um ciclo. Pelo sim pelo não vou trancá-lo num sítio de onde não fuja. Fechar bem a porta do passado e deitar a chave ao mar.
Been there, done that. Já chega!
Foram exactamente 10 meses e 2 dias de tratamentos intensivos. 10 meses e 2 dias que se multiplicaram e tantas vezes me pareceram anos.
Foram meses duros. Apesar das palhaçadas e brincadeiras que tantas vezes fizeram o corpo esquecer-se que doía, que quase o enganavam a achar que estava tudo bem.
E a cabeça foi tantas vezes buscar aquela frase, grafitada de fugida nos tapumes das obras do Chiado, pela qual passei durante meses a fio, a caminho das aulas de piano: "Estamos enterrados na merda, mas estamos vivos...".
Podia ser mais poético? Podia! Mas foi o meu cérebro que escolheu. Que achou que era a que mais se adequava àqueles dias maus. Que aquelas frases bonitas e inspiradoras que surgem ao quilo na internet não serviam para o que se passava no meu corpo. Ele lá sabe!
A quem ainda vem a caminho da meta, a iniciar ou algures no percurso dos tratamentos, digo-vos deste futuro paralelo que a meta está mesmo cá. Eu também duvidei da sua existência. Achei que ia correr e correr e nunca ia cá chegar. Mas agora aqui vos espero com a bandeirola a acenar à vossa passagem!
E como uma imagem vale mais que mil palavras, ficam as imagens e recordações de 10 meses e 2 dias que parecem ter sido anos.
Que venha o próximo capítulo!
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