sábado, 29 de julho de 2017

Então e que tal essa menopausa?

Se durante a gravidez e o pós parto as hormonas já tinham mostrado ser tramadas, agora com uma menopausa induzida aos 37 anos não restam quaisquer dúvidas.

A menopausa é sair de casa a espumar porque o marido deixou um papel dois milímetros fora do sítio numa casa onde todas as divisões têm sempre aquele look de terem estado no olho de um furacão (obrigada marido pela paciência e por ainda não me teres comprado um açaime 💗) e cinco minutos depois ir de lágrima no olho por ouvir isto na rádio a caminho da radioterapia.

Que haja uma vida toda para o nosso amor! (e muita paciência para a minha menopausa...)



sexta-feira, 28 de julho de 2017

Assim não quero brincar mais!

E eis que termina a primeira semana de radioterapia. 

So far, so good! Sem grandes efeitos secundários a apontar, embora ache todo aquele ambiente que rodeia a terapêutica um tanto ou quanto suspeito (mas isso ficará para um outro dia...).

Ontem foi dia de consulta de enfermagem, onde fui novamente esclarecida sobre todos os cuidados a ter. Basicamente o meu lado direito não pode levar qualquer tipo de sabonete ou gel banho, desodorizante ou depilação (por isso não estranhem se me encontrarem e eu permanecer de perfil, com o lado direito a favor do vento). Os banhos devem ser de água fria ou pelo menos quase fria (OK, tendo em conta que banhos de água fria para mim são tortura e que a minha resistência não será superior a dois ou três segundos, talvez seja aconselhável que, pelo menos enquanto este calor durar, o meu contacto com pessoas seja feito estando toda eu contra o vento). Fui também aconselhada a vestir roupa larga e de algodão e a evitar qualquer tipo de exposição solar na zona irradiada. 

Nada que não se cumpra com facilidade. Agora o que me tramou foram os cuidados a ter na cozinha que me fazem pensar que, após um cancro de mama, cozinhar deveria ser considerado uma actividade de alto risco ou, no mínimo dos mínimos, um desporto radical.

Desde a cirurgia tenho andado em treino intensivo de utilização da mão esquerda, como se pode comprovar pela quantidade de comida que no final da confecção se encontra no outrora imaculado fogão em vez de no interior dos tachos e frigideiras, onde devia permanecer. Devido ao esvaziamento ganglionar, uma pequena queimadura no braço direito pode levar ao desenvolvimento de linfedema, uma condição nada simpática. E nem tem corrido mal, apesar da falta de jeito. Já interiorizei a informação no meu cérebro pequenino e quase instintivamente já uso a mão esquerda para mexer, pegar e destapar tudo o que esteja quente. 

Mas hoje o desafio adensou-se. Cuidados a ter na cozinha durante a radioterapia (e pelo menos um par de meses após o fim): usar apenas os bicos do fogão mais distantes de mim, abrir os tachos tendo sempre o cuidado da abertura ficar virada para o lado contrário onde estou e retirar as coisas do forno colocando-me lateralmente. Ou seja, nada de vapor ou calor perto da zona irradiada. Tendo em conta que a zona a proteger é (só) a metade direita do meu tronco, e que a estes cuidados se acrescenta o uso apenas da mão que menos à mão está, basicamente cozinhar vai passar a ser um acto digno de uma qualquer apresentação no Chapitô (e logo eu que sou aquele ser tão coordenadinho!)

E fica desde já assente que se na próxima consulta me disserem que tenho que fazer o pino enquanto ligo para a Telepizza é desta que desisto desta treta! Assim não quero brincar mais!


Olha eu a fazer o jantar durante a radioterapia! (Foto: Neatorama)



domingo, 23 de julho de 2017

Pequenas coisas que são enormes

Amanhã inicia-se um novo ciclo: a radioterapia. Durante 5 semanas terei direito à minha dose diária de radiação. 

E como em todos os começos há sempre uma certa ansiedade sobre o que se segue. 

Tal como aconteceu antes de iniciar a quimioterapia, a hormonoterapia ou de ser submetida à cirurgia, já tive direito a uma longa e descritiva lista de todos os possíveis efeitos secundários e daquilo que poderei sentir ao longo do tratamento. Mas mais uma vez desconheço, dessa longa lista, quais serão os que me calham. Serão todos ou só alguns? Vai ser assim tão mau ou a coisa até se vai fazendo? É desta que o cansaço me vence? Ou será desta que ganho super poderes ou, na pior das hipóteses, passo só brilhar no escuro o que fará de mim a alma de qualquer festa?

É todo um novo mundo, um desconhecido que, se por um lado me faz ficar entusiasmada por estar um passo mais perto do fim, me faz também ficar apreensiva. É que o desconhecido será sempre um bicho assustador!

Mas, no meio do azar destas coisas todas do cancro, sou uma sortuda por estar rodeada de pessoas que me ajudam a ultrapassar cada momento. E uma dessas pessoas, que tem tido um papel muito importante em todo este processo, surpreendeu-me com algo muito especial. 

Uma pequena caixa. Vinte cinco cartões. Vinte e cinco mensagens. Uma por cada dia de tratamento. Todos os dias, antes do tratamento, devo retirar um cartão para ler. 

Sei que todos os dias vou estar curiosa por saber o que me espera em cada um destes cartões. Sei que essa curiosidade irá aliviar-me um pouco de tudo o resto.  Tenho a certeza que haverá uma ou outroa mensagem (senão todas) que me farão cair uma lágrima ou outra.

Mas são lágrimas boas, daqueles que aquecem o coração! 💖





sexta-feira, 21 de julho de 2017

O atestado de incapacidade multiusos e outros delírios

Agora que descobri e resolvi o segundo cancro está na altura de ir pedir uma reavaliação do meu grau de incapacidade.

Perante um diagnóstico de cancro o doente deve fazer o pedido de avaliação de incapacidade para emissão de um atestado médico de incapacidade multiuso. No caso da incapacidade atribuída ser igual ou superior a 60%, o seu portador terá direito a alguns benefícios (como a isenção de taxas moderadoras, isenção de pagamento de IUC e benefícios na aquisição de viaturas novas e em crédito habitação, benefícios fiscais em sede de IRS, prioridade no atendimento…).

Para obter este atestado devemos dirigir-nos ao centro de saúde da nossa área de residência, levando de preferência cópias de todos os exames médicos que comprovem o diagnóstico e um relatório do nosso médico assistente. Depois é só aguardar que nos chamem para comparecer a junta médica, que irá atribuir um grau de incapacidade de acordo com os relatórios médicos apresentados (que devem ser novamente levados pelo doente no dia da avaliação).

Eu, como gosto de dar nomes a tudo, apelidei esta junta como “O reino das pessoas cinzentas”.

Quando fui convocada para a primeira junta, após uma hora e meia de espera, entrei finalmente numa sala onde quatro médicos se dispunham em fila, atrás de uma secretária também ela com um ar desgastado. Atrás de si sentavam-se quatro jovens que presumo estariam em treino para ser os sucessores nesta carreira emocionante (tive vontade de lhes sussurrar entre dentes: fujam, há todo um mundo colorido lá fora!!!".

Não posso de todo dizer que foram antipáticos comigo. Foram apenas… cinzentos. Como qualquer pessoa que passa o dia a fazer sessões de cinco minutos (sim, porque a espera é longa, mas o tempo em que efectivamente estamos a ser avaliados é bem curto), uma após a outra, a atribuir percentagens de incapacidade à tabela, consoante a doença apresentada.

Carcinoma da mama? Ok, pela tabela é 60%. Escreve o papel, assina, passa para cá €25 (eu ainda paguei €50 mas felizmente houve entretanto uma redução da taxa) e vai lá à tua vida.

E será necessário que estes senhores doutores passem os seus dias neste mundo cinzento? Eu cá acho que não! Já que isto funciona por sistema de pontuações, podíamos implementar umas medidas para tornar a coisa mais animada.

Por exemplo, podiam fazer uma coisa em moldes festival da Eurovisão (mas do festival da década de 80/90, quando o festival era o festival na sua verdadeira essência!). Vestíamos todos umas roupinhas giras com muita lantejoula e muito brilho. Faziam-se umas equipas mistas com médicos espanhóis, só para dar aquele toque internacional e, na hora de atribuir pontuações, cada médico teria a palavra.

 “Ora agora vamos receber a pontuação do Dr. João de Portugal. Carcinoma da mama: twelve points; douze points; doze pontos. Ausência de metástases: zero points, zéro point, zero pontos. Segundo carcinoma na tiróide: five points, cinq points, cinco pontos.” 

 E assim sucessivamente. No fim podia haver confettis coloridos e uma pessoa sempre saía dali mais convencida que a fortuna que pagou sempre tinha servido para alguma coisa.

Se quisessem uma coisa mais low profile e menos festivaleira, podiam ir para um registo mais ao género dos jogos olímpicos em que cada médico teria umas placas com pontuações e o atestado seria entregue ao doente num pódio, juntamente com uma medalhita de participação. Há todo um mundo de hipóteses, bastava perguntarem-me!

Tenho tantas ideias e tão boas que acho que vou apresentar esta proposta ao SNS e para a próxima junta de avaliação, pelo sim pelo não, levo confettis!




quarta-feira, 19 de julho de 2017

Ó pra mim a ser rebelde!

E após a saga da tiróide maligna que foi morrer a norte seguem-se finalmente os próximos capítulos, que é como quem diz, a radioterapia da mama.

Primeiro passo: consulta com especialista.

Então conte lá, foi operada quando?

“Bem Dr, fui submetida a tumorectomia a 5 de Maio, tirei pontos, abriu a costura, puseram pensinhos para fechar, fiz uma alergia digna de seu nome, esperei uma semana para melhorar, voltei a levar pontos, esperei pela cicatrização, tirei pontos e a mama ficou pronta para a radioterapia. Entretanto havia também algo de errado com a tiróide que não pode ser tratado de antemão. Repeti biópsia, resultado positivo para malignidade. Foi preciso operar de urgência. O mais rápido que se arranjou foi no Porto. Bora lá a isso, apanha o intercidades, bota a tiróide fora. Histologia confirma não um, mas dois nódulos malignos, pois ao que parece o meu corpinho é terreno fértil para cancros. Felizmente não preciso iodo radioactivo, a cicatrização está impecável e por isso estou aqui hoje. Basicamente foi isso…”

Só quando acabo de contar a história toda é que reparo na cara espantada do médico. “Bem, isso bem podia ter sido assim com menos curvas e desvios!”, exclama. Poder podia, mas não era a mesma coisa!

Após observação da cicatrização, explicação sobre o processo e protocolo escolhido, possíveis efeitos secundários da radioterapia (cansaço, esofagite, complicações pulmonares e alguma sensibilidade a nível da pele na zona irradiada) e sobre como vigiar e tentar controlar esses efeitos.

Segundo passo: momento de rebeldia! Bora fazer uma tatoo!!!

Durante toda a minha adolescência quis ter uma tatuagem! Hoje agradeço todos os dias por não a ter feito e ter que conviver diariamente com um golfinho na omoplata ou um desenho tribal no bícepe ou no fundo das costas (ouch)!

 E hoje, mais de 20 anos passados, foi o dia de fazer não uma, mas meia dúzia de tatuagens!!

Antes de se iniciar o tratamento por radioterapia é necessário realizar um TAC onde somos colocadas na posição exacta que terá que ser reproduzida durante todas as sessões. Desta forma é garantido que a zona irradiada é sempre a mesma e a correcta. No meu caso foi também posicionado e recortado um pedaço de uma placa de um material semelhante a gelatina que em todas as sessões será colocado sobre a mama a tratar. A esta “gelatina” dá-se o nome de “bolus”, e tem como objectivo não só homogeneizar a dose de radiação na região, como de reduzir a profundidade de acção da mesma. Ou seja, no fundo será como se estivessem a acrescentar uma camada que o equipamento vê como pertencendo ao nosso corpo. Assim, em vez de a radiação actuar apenas em profundidade (o que aconteceria caso fosse incidida directamente sobre a nossa pele), irá actuar mais à superfície do tecido a tratar, dependendo da espessura do “bolus” utilizado.

E para finalizar, para que durante as 25 sessões tudo seja feito exactamente da mesma forma e no mesmo local, foram então feitas pequenas tatuagens na zona em redor da mama. Estes pequenos pontinhos irão dar aos técnicos as coordenadas necessárias para realizar a radioterapia da forma correcta.

Já que ali estava, ainda tentei convencer os técnicos a fazerem qualquer coisinha mais interessante (sei lá, umas florzinhas ou corações) mas eles insistiram nos pontinhos.


São umas tatuagens aborrecidas, eu sei… mas pensando bem também já não tenho idade para grandes rebeldias!



(Fonte: Pinterest)

quarta-feira, 5 de julho de 2017

É um botão de pausa, "fáxavore"!

Todo o diagnóstico de cancro devia vir acompanhado de um botão de pausa.
 
Só para que, de vez em quando, no meio dos longos meses de tratamento, pudéssemos carregar no botão e respirar um pouco. Ter uns dias. Sem pensar em médicos, tratamentos, comprimidos, análises, injecções, cirurgias, pensos, pontos e costuras e fisioterapias. Estarmos só a ser pessoas "normais", com uma vida "normal".

Chegou a altura do ano em que toda a gente pergunta "Então, quando é que vão de férias?".

Este ano a resposta é uma incógnita. Arranjei um patrão daqueles manhosos. Chama-se cancro. Não me deixou entregar o mapa de férias. E ainda tem a lata de ir arranjando compromissos e mais compromissos sem sequer pedir opinião (vejam lá que até convidou um amigo para viver na minha tiróide!).

Percebemos que o caso é grave e que precisamos mesmo mesmo de uma pausa quando abrimos a caixa do correio e damos de caras com dois postais.

Somos viajantes à antiga. Ainda enviamos postais. Daqueles com selo. Sabem?

E enviamos sempre um especial: de nós para nós. Para mais tarde recordar.

E hoje tínhamos postais na caixa do correio! Porque fomos de férias? Não! Porque, no meio da urgência, tivemos que ir ao Porto tirar a tiróide! E no fim de contas, não fosse a maçada da cirurgia, temos que confessar que até nos soube bem mudar de ares, andar de comboio e ver outra cidade! Tanto que até enviámos um postal de nós para nós. Para mais tarde recordar.

Alguém me arranja um botão de pausa "fáxavore"? Só disfrutar da Silly Season, prometo! Depois recomeço exactamente onde parei!




terça-feira, 4 de julho de 2017

Sobre a hereditariedade do cancro

Prever e antecipar o cancro. Uma entrevista muito esclarecedora com a fantástica Dra Marta Amorim. Para percebermos um pouco melhor a implicação dos nossos genes nesta história do cancro e como podem os testes genéticos ajudar-nos na prevenção. Vale mesmo a pena ver aqui.




segunda-feira, 3 de julho de 2017

Eu hoje ia escrever...

Para hoje tinha planeado escrever uns disparates.
 
Era um bom dia, sem planos de maior, sem visitas ao médico.
 
Até ter aberto a minha agenda e dar de caras com o programa menos desejado de cada início do mês: dia de Zoladex ou, como gosto de lhe chamar, a injecção do demo!
 
Não só fiquei logo encharcada em suor ao pensar naquela agulha fofinha espetada na minha barriguita, como comecei de imediato a sentir os enjoos por saber que teria que mais uma vez visitar o hospital de dia onde durante longos meses levei a dose de quimioterapia.
 
Já está. Felizmente já é a quarta injecção demoníaca que levo, por isso na melhor das hipóteses já só faltam entre 20 a 56 para ficar despachada disto  (estou a ser irónica, ok?)
 
Assim sendo, declaro que não há condições para escrever disparates hoje. Estamos encerrados para curtir a neura.
 
Prometemos ser breves (e esperamos que haja gelado no congelador).
 
 
Fontes: Open Clipart () e Instagram