segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Não acredit(ava) na Psicologia

Não acredito na psicologia.
Foi com esta frase que comecei as minhas consultas de psicologia. Afinal de contas não devemos mentir.
Realmente nunca acreditei muito na psicologia clínica como ferramenta de apoio. Sempre achei que, ou o caso era grave e se resolvia com drogas daquelas da pesada, ou então mais valia pagar um copo a uns amigos.
Sempre tive um certo pedantismo intelectual que me impedia de reconhecer que fazia sentido estar com alguém que não iria fazer mais que debitar teorias que eu podia perfeitamente ler em qualquer livro da secção de “psicocenas” de uma qualquer livraria.
Mas a certo ponto do processo achei que precisava de ajuda. Aliás, a minha médica oncologista achou que eu precisava de ajuda e eu concordei. E como beber copos com amigos todos os dias é coisa para acabar em cirrose certa (e o meu fígado levou tanta tareia que tenho medo que decida fazer as malas e desistir de viver no meu corpo) lá acedi em consultar um psicólogo.
Então e que tal correu? Correu mal!
Dei por mim num consultório com o aspecto irritante de ter acabado de ser alvo da intervenção do “Querido mudei a casa”. À minha frente alguém que durante uma hora discursou sobre… sobre… olhem, não sei! O tom de voz monocórdico e paternalista, o discurso que balançou entre a psicologia e o esoterismo e as socas com tachas dispersaram-me demasiado. Sim, desculpem-me qualquer coisinha, mas socas com tachas ultrapassam o meu limite de tolerância sobre a credibilidade de alguém baseada no tipo de calçado (Sim, tenho toda uma teoria sobre o assunto. Isso e cores de verniz. Sou uma mulher de teorias, nada a fazer quanto a isso!).
Voltei a desistir da psicologia. Até porque eu sou muita forte a dou conta disto na boa. Manda vir mais uma rodada de minis!
Até que o fim do tratamento começou a aproximar-se. E toda aquela névoa que se formou enquanto estava focada em lutar pela sobrevivência, que me protegeu dos meus próprios pensamentos, começou a dissipar-se. E em vez do D. Sebastião foram os fantasmas que saltaram do meio da neblina.
BUUUUU!
E agora? Eu até já tinha lido sobre o assunto. É stress pós-traumático. Tipo aquele que acontece aos militares quando regressam de cenários de guerra. Onde é que está o livro com as regras para dar cabo destes fantasmas? Deve estar esgotado, bolas!
E como era assustadora a opção de ficar encharcada em psicotrópicos que me iriam transformar numa pequena zombie (feliz, mas a babar por todo o lado), decidi dar mais uma hipótese à psicologia.
“Boa tarde. Eu sou a Ana, no último ano o meu corpo decidiu começar a brotar cancros aqui e ali e estou um bocado à rasca. Ah, é verdade. Não acredito na psicologia.”
E do outro lado recebi um sorriso. Juntamente com a curiosidade de perceber porquê. E no fim dessa consulta comecei a acreditar na psicologia. E voltei para mais consultas (inacreditável, não é??). Percebi que tenho agora alguém que me vai comigo espreitar debaixo da cama à procura dos monstros escondidos e vai ensinar-me como enxotá-los (à vassourada se assim tiver que ser).
Olha, afinal até acredito na psicologia.
Mas não julguem os mais esperançosos que vou perder o meu toque de insanidade! Se a minha cabecita já era um tanto mal acabada, depois da quimioterapia já não há volta a dar.
E, pelo sim pelo não, por enquanto acho não vou mostrar à minha psicóloga as fotos do meu telemóvel. Aquelas que tiro quando estou aborrecida pela casa e ando a inventar coisas para me entreter (como se não as tivesse!) e evitar pensar (como se conseguisse!).
Essas por enquanto ficam para mim. Não vá a psicóloga achar que sou meio louca e, agora que eu acredito na psicologia, ser ela que deixa de acreditar! 


Coisas que se fazem em casa para manter a mente ocupada. :)


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