A radioterapia utiliza radiação ionizante de alta intensidade
para destruir as células cancerígenas. A radiação irá danificar o DNA da célula, tirando
vantagem da incapacidade que as células cancerígenas têm de proceder à sua
reparação. As células saudáveis que sejam também afectadas pela radiação têm a
capacidade de reparar o seu DNA, sendo nesta diferença que se baseia o balanço entre
o benefício e danos colaterais desta terapia. As células malignas não conseguem corrigir os danos no DNA e morrem, enquanto que as células saudáveis accionam os seus mecanismos de
reparação de DNA, sobrevivendo e continuando tranquilamente na sua vida.
A radioterapia é normalmente utilizada como terapia
adjuvante no cancro de mama primário, tendo como objectivo minimizar a
probabilidade de reicidivas. Tal é feito eliminando as células malignas que possam ainda
permanecer após a quimioterapia e/ou cirurgia.
A técnica mais comummente utilizada é a de radioterapia externa,
em que a radiação é direccionada para incidir de forma o mais localizada
possível nos locais a tratar. Os locais a irradiar e o tempo de tratamento são
definidos pela equipa médica dependendo do quadro clínico de cada paciente,
sendo que o tempo médio de tratamento varia entre as 15 e as 35 sessões
diárias. A região da mama (na sua totalidade ou apenas parcialmente) é sempre
alvo de tratamento após tumorectomia (cirurgia conservadora), podendo ser também
irradiadas as cadeias ganglionares axilar, supraclavicular e mamária
interna e a parede torácica (no caso de mastectomia).
As sessões são rápidas e indolores, podendo porém surgir alguns efeitos secundários incómodos. Os mais comuns são o cansaço, dificuldade em deglutir, alterações no tecido mamário (formação de fibroses), lesões tipo queimadura na pele da região irradiada e possível regressão na mobilidade do braço (daí já ter combinado com o fisioterapeuta voltar para mais umas sessões após o fim da radioterapia). Segundo o que me foi explicado pelos
médicos e enfermeiros e partilhado por quem já passou pelos tratamentos, normalmente estes sintomas fazem-se sentir numa fase mais tardia do tratamento
e até nas semanas seguintes ao final do mesmo. A longo prazo podem surgir umas complicações mais chatas a nível dos pulmões, coração, ossos e tiróide (pelo menos deste posso dizer que me safo) pois a radioterapia, apesar de mais localizada, tal como a quimioterapia não é um tratamento com especificidade celular e tanto ataca células malignas como benignas.
É muito bonita toda esta teoria mas afinal de contas que tal é na realidade a radioterapia? É que tudo isto é o que dizem os livros… mas a mim não me enganam! Sim,
que eu sou uma moça informada e vi todos os episódios dos Ficheiros Secretos! (estavam a achar isto tudo muito sério, confessem!!!)
Primeiro levam-nos para uma sala fria. Despidas da cintura
para cima, deitam-nos numa maca com os braços acima da cabeça. Alinham as nossas
tatuagens com uns feixes laser vermelhos que se cruzam sobre nós. Ouvimos o
ranger da porta metálica a fechar. E é quando ficamos sozinhas, fechadas naquela
sala gélida, que tudo começa!
Assim que fecham a porta o aparelho ganha vida. Começa a
girar à nossa volta. De repente, atrás de uma das peças revela-se nitidamente a
vértebra de algo alienígena, convenientemente disfarçado, como se de um braço
integrante do equipamento se tratasse. As suas parecenças com o oitavo passageiro
são óbvias e, cada vez que aquela parte da maquineta passa sobre a minha cabeça, aguardo que um pedaço de baba viscosa se escape e desmascare o amigo oculto. Felizmente ia já em modo alerta pois já uma amiga me havia avisado da sua presença (sim, não sou a
única, nem tanto fui a primeira a ver tal ser!) e desde o primeiro tratamento mantenho o bicho debaixo de olho.
Continua a rotação em nossa volta e eis que fica ao alcance
do meu olhar o grande ecrã redondo.
Consigo visualizar uma imagem de luz pixelizada
que se vai alterando em padrões que não consigo entender. À primeira vista aquela imagem faz-me lembrar um código QR. Porém, olhando com mais atenção e, acompanhando o seu movimento, identifico a imagem como algo saído do saudoso ZX Spectrum. E tudo faz sentido (na minha cabeça faz, ok?), quando
oiço com atenção o ruído de fundo que acompanha o tratamento. Tal e qual o que
se fazia ouvir durante aqueles minutos intermináveis em que víamos as
risquinhas a passar e rezávamos aos deuses dos videojogos para que a cassete
não encravasse. Isto faz-me pensar... estará aquele Alien escondido a tentar comunicar comigo através daquelas luzes ou será apenas um saudosista que arranjou ali o seu cantinho para estar sossegado a jogar Jet Set Willy ou Chuckie Egg e não está
nem aí para mim?
A parte boa é que os tratamentos são muito rápidos (cerca de
dez minutos), e seja lá qual for a experiência que estes seres alienígenas
andam a fazer comigo, até agora não provocam qualquer dor.
Não, não me mandem ainda internar! Ainda tenho 19 sessões
pela frente e juro que, apesar de já ter perdido o meu look Sigourney Weaver, quando o amigo se desmascarar o convenço a tirar uma
selfie!
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Ao ver a imagem que criei, talvez comece a duvidar um pouquinho (mas só um pouquinho) da minha sanidade mental... |