quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Hoje é dia da gratidão

Dizem os doutos amigos das manhãs da comercial que hoje é o dia da gratidão.
Tem sido um ano manhoso...37 anos, dois cancros, cinco meses de quimioterapia, duas cirurgias, 25 sessões de solário (oops, radioterapia), injecções com a seringa das farturas e comprimidos para me tornar uma mulher ressequida e amarga no auge da minha menopausa.
O que há a agradecer? TANTO!!!
Grata!
Grata por me ter cruzado com tantos excelentes profissionais que se dedicaram a livrar-me do mal (sem Amém) e a fazer com que esta caminhada interminável fosse o menos dura possível , dentro da sua dureza inerente. Por me ter aguentado à bronca e ter tido a capacidade de me manter firme. Por não ter perdido a capacidade de rir disto tudo.
Grata!
Por um marido que esteve e está sempre ao meu lado. Que me fez rir à gargalhada durante as sessões de quimioterapia. Que me comprou o último livro de "Uma Aventura" quando me queixei da inaptidão dos meus neurónios em concentrarem-se na leitura.
Por uma filha que, entre birras, é a melhor do mundo. Que sempre me disse que eu estava linda e que gostava de fazer festinhas na minha careca. Que no auge dos seus três anos todas as noites me vem trazer a embalagem de Biafine e me diz em tom de aviso: "mamã, ainda não puseste o "cremo" nas maminhas" 😍
Grata!
Pelos amigos que estiveram sempre cá. Que ajudaram a preparar festas de aniversário surpresa. Que trazem o almoço para estarmos juntos ou que convidam para uns programas com a criançada. Que cuidaram da minha filha como ninguém. Que passam horas ao telefone a contar-me o que acontece no mundo das pessoas sem cancro. As amigas que me acompanham em confidências em torno de um Mojito (ou três ou quatro.... mas é segredo!). Às novas amizades com quem o tempo de um café parece sempre pouco porque há tanto para conversar. Como se nos conhecêssemos uma vida toda.
Grata!
À senhora que me abordou para dizer que da minha careca podiam vir a sair caracóis (de cabelo, não o bicho. Isso era esquisito). Quis partilhar que foi o que lhe aconteceu quando ela teve cancro há muitos muitos anos. À senhora que ontem me espetou duas beijocas só porque a deixei levar os pacotes de açúcar do galão para a colecção da neta. Aos castiços do café do bairro que, no seu pouco jeito para se mostrarem preocupados, acabam sempre a contar histórias de quem não sobreviveu ao cancro (ai, menina..isso volta sempre. Não vê aquele da televisão e a outra que não me lembro o nome!). É mesmo só falta de jeito para verbalizar uma preocupação que sei ser verdadeira.
Grata!
A todos os outros. Àquelas pessoas desagradáveis. Aos que apitam no trânsito. Aos que resmungam por tudo e por nada. Grata por me fazerem ver que eu não quero ser assim. A vida é curta e há que sorrir-lhe!
E finalmente, para os senhores que comandam o universo, fica mais uma vez o recado. Eu agora ficava era mesmo grata por ter um bocadinho de descanso. Combinado?

(Imagem: Radio Comercial)


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