E que grande
alívio foi acabar a primeira fase de quimioterapia e pensar: “Boa, o pior já
foi! Agora vem a parte fácil!”. Pelo menos assim me foi transmitido pela
experiência de quem já viu muita gente
passar por este processo. Depois do EC, o Paclitaxel vai ser canja! (e eu que
não gosto de canja…)
Desta vez as
sessões passariam a ser semanais. Doze semanas de intoxicação non-stop!
O Paclitaxel tem um modo de acção um pouco diferente da Ciclofosfamida e da Epirrubicina,embora o resultado final seja o mesmo (o impedir a divisão celular que está exacerbado nas células tumorais e induzir a morte celular programada que estas não são capazes de realizar). Porém, este citotóxico não actua directamente sobre o DNA mas sim sobre uma estrutura celular denominada citoesqueleto, alterado a sua dinâmica (nomeadamente pela estabilização de estruturas chamadas microtúbulos, essenciais para que haja a correcta segregação de cromossomas durante a divisão celular).
O Paclitaxel está presente na casca de uma árvore que cresce na costa noroeste da América do Norte portanto, se quisermos ver as coisas assim de uma forma light, quase que é um produto natural (brincadeirinha! 😉)
Uns dias
antes descobri que há muita gente a sofrer choque anafilático quando faz o
tratamento com Paclitaxel. Assim sendo, as primeiras duas sessões tiveram o
extra de uma pré tratamento de modo a evitar que o corpo
entrasse em choque caso não gostasse de receber nas veias este novo amigo. Não
havendo indícios de alergia, a primeira sessão seria com dose completa de pré
tratamento, a segunda apenas com metade e a terceira sem rede! Perante este
panorama, se na primeira e segunda sessão ia stressada, na terceira acho que nem
respirei durante as duas horas de tratamento. A enfermeira alertou para ao mais
pequeno sinal (dor ao fundo das costas, dor no peito, falta de ar…) não
esperasse um segundo para chamar alguém para que fosse activado o protocolo de
emergência. Passei o tratamento de olho no botão para chamar auxílio. Em vários
momentos pensei sentir todos os sinais de alerta ao mesmo tempo… espera,
dói-me ali? Não, não é nada. Ai, será que é isto? Nopes, ainda não… E para
meu espanto o meu corpo, que é normalmente esquisitinho e dado a alergias,
recebeu de braços abertos e sem pestanejar este novo tratamento!
Disse também
adeus aos 500 comprimidos para o enjoo e, apesar de não ter propriamente um
apetite voraz, comer já não é um acto tão penoso nem tenho náuseas dignas
de assim se chamarem.
O cabelo
começou também a crescer. OK, não é propriamente cabelo, é mais uma penugem.
Mas, tendo em conta o meu look anterior, pode dizer-se que tenho já uma farta
cabeleira! Em compensação as sobrancelhas e pestanas (que até agora se tinham
aguentado à bronca) estão a ficar escassas o que me dá aquele ar meio tartaruga
meio pessoa incapaz de ter qualquer expressão facial.
Então esta quimioterapia leva-se mesmo na boa, certo? Errado!!! Os efeitos secundários do Paclitaxel têm sido
para mim os piores de todo este processo.
Dores nas
articulações, dores musculares e o cansaço extremo (e por extremo entenda-se
mesmo extremo). A cada tratamento a coisa fica mais agreste… Tenho “apagões” no
sofá em que bem podem tentar acordar-me que eu continuo profundamente envolvida nos meus sonhos. Mexer-me para fazer seja o que for parece sempre uma
tarefa herculeana.
A neuropatia
periférica também decidiu atacar em grande. As mãos dormentes e dificuldade em
fazer qualquer tarefa que implique motricidade fina. Já para não falar na falha
dos neurónios que teimam em esquecer-se daquilo que estou a fazer (por enquanto
ainda sei onde moro mas, pelo sim pelo não se me virem por aí com um ar perdido
devolvam-me à procedência sff!).
Poderia dizer
que o tratamento com Paclitaxel me está a dar alguma rodagem na preparação para
a velhice. Quando a malta for apanhada de surpresa com as artroses, sem destreza para fazer o laço dos atacadores, com a "xexézice" e a menopausa (sim, essa
também cá anda) eu já estou bem preparada e com experiência na matéria! Ora
toma!
Ao fim da
quinta sessão fiz bingo nas análises. Leucopenia, Linfopenia, Granulopenia,
Anemia e Trombocitopenia! O que assim em resumo quer dizer que não havia nada
no meu sangue que estivesse em condições. O meu corpo estava a gritar por
socorro!
Toma lá mais
umas injecções para dares na barriga para estares pronta para mais uma dose.
Mas o corpo não aguentou a lá tivemos que fazer o primeiro (e espero que único)
adiamento do tratamento. Daí a minha semana a (tentar) recarregar baterias.
Ontem já
estava preparada para mais uma dose e já só faltam seis para dizer bye bye à
quimioterapia! 😁
Fonte: The awkward yeti |
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