quarta-feira, 1 de março de 2017

As alegrias da quimioterapia – Capítulo II (já só faltam 6)

E que grande alívio foi acabar a primeira fase de quimioterapia e pensar: “Boa, o pior já foi! Agora vem a parte fácil!”. Pelo menos assim me foi transmitido pela experiência de quem já viu muita  gente passar por este processo. Depois do EC, o Paclitaxel vai ser canja! (e eu que não gosto de canja…)

Desta vez as sessões passariam a ser semanais. Doze semanas de intoxicação non-stop!

O Paclitaxel tem um modo de acção um pouco diferente da Ciclofosfamida e da Epirrubicina,embora o resultado final seja o mesmo (o impedir a divisão celular que está exacerbado nas células tumorais e induzir a morte celular programada que estas não são capazes de realizar). Porém, este citotóxico não actua directamente sobre o DNA mas sim sobre uma estrutura celular denominada citoesqueleto, alterado a sua dinâmica (nomeadamente pela estabilização de estruturas chamadas microtúbulos, essenciais para que haja a correcta segregação de cromossomas durante a divisão celular). 

O Paclitaxel está presente na casca de uma árvore que cresce na costa noroeste da América do Norte portanto, se quisermos ver as coisas assim de uma forma light, quase que é um produto natural (brincadeirinha! 😉)

Uns dias antes descobri que há muita gente a sofrer choque anafilático quando faz o tratamento com Paclitaxel. Assim sendo, as primeiras duas sessões tiveram o extra de uma pré tratamento de modo a evitar que o corpo entrasse em choque caso não gostasse de receber nas veias este novo amigo. Não havendo indícios de alergia, a primeira sessão seria com dose completa de pré tratamento, a segunda apenas com metade e a terceira sem rede! Perante este panorama, se na primeira e segunda sessão ia stressada, na terceira acho que nem respirei durante as duas horas de tratamento. A enfermeira alertou para ao mais pequeno sinal (dor ao fundo das costas, dor no peito, falta de ar…) não esperasse um segundo para chamar alguém para que fosse activado o protocolo de emergência. Passei o tratamento de olho no botão para chamar auxílio. Em vários momentos pensei sentir todos os sinais de alerta ao mesmo tempo… espera, dói-me ali? Não, não é nada. Ai, será que é isto? Nopes, ainda não… E para meu espanto o meu corpo, que é normalmente esquisitinho e dado a alergias, recebeu de braços abertos e sem pestanejar este novo tratamento!

Disse também adeus aos 500 comprimidos para o enjoo e, apesar de não ter propriamente um apetite voraz, comer já não é um acto tão penoso nem tenho náuseas dignas de assim se chamarem.

O cabelo começou também a crescer. OK, não é propriamente cabelo, é mais uma penugem. Mas, tendo em conta o meu look anterior, pode dizer-se que tenho já uma farta cabeleira! Em compensação as sobrancelhas e pestanas (que até agora se tinham aguentado à bronca) estão a ficar escassas o que me dá aquele ar meio tartaruga meio pessoa incapaz de ter qualquer expressão facial.

Então esta quimioterapia leva-se mesmo na boa, certo? Errado!!! Os efeitos secundários do Paclitaxel têm sido para mim os piores de todo este processo.

Dores nas articulações, dores musculares e o cansaço extremo (e por extremo entenda-se mesmo extremo). A cada tratamento a coisa fica mais agreste… Tenho “apagões” no sofá em que bem podem tentar acordar-me que eu continuo profundamente envolvida nos meus sonhos. Mexer-me para fazer seja o que for parece sempre uma tarefa herculeana.

A neuropatia periférica também decidiu atacar em grande. As mãos dormentes e dificuldade em fazer qualquer tarefa que implique motricidade fina. Já para não falar na falha dos neurónios que teimam em esquecer-se daquilo que estou a fazer (por enquanto ainda sei onde moro mas, pelo sim pelo não se me virem por aí com um ar perdido devolvam-me à procedência sff!).

Poderia dizer que o tratamento com Paclitaxel me está a dar alguma rodagem na preparação para a velhice. Quando a malta for apanhada de surpresa com as artroses, sem destreza para fazer o laço dos atacadores, com a "xexézice" e a menopausa (sim, essa também cá anda) eu já estou bem preparada e com experiência na matéria! Ora toma!

Ao fim da quinta sessão fiz bingo nas análises. Leucopenia, Linfopenia, Granulopenia, Anemia e Trombocitopenia! O que assim em resumo quer dizer que não havia nada no meu sangue que estivesse em condições. O meu corpo estava a gritar por socorro!

Toma lá mais umas injecções para dares na barriga para estares pronta para mais uma dose. Mas o corpo não aguentou a lá tivemos que fazer o primeiro (e espero que único) adiamento do tratamento. Daí a minha semana a (tentar) recarregar baterias.

Ontem já estava preparada para mais uma dose e já só faltam seis para dizer bye bye à quimioterapia! 😁

 Fonte: The awkward yeti

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