quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Fura daqui, esburaca dali…

Fonte: jesse-bones.deviantart.com 

Após ter o diagnóstico inicial foram necessários uma série de exames “extra” para se fazer o diagnóstico completo e detalhado e a equipa médica decidir a estratégia de ataque ao "bicho". Acho que em duas semanas fui mais vezes ao médico do que em toda a minha vida. Fura daqui, esburaca daqui, agora mais uma biópsia, agora injectamos um isótopo radioactivo, agora mais umas análises…

Outra opção que me foi dada e que desconhecia totalmente foi a da preservação de fertilidade, que é como quem diz "guardar uns ovinhos para chocar mais tarde". Os tratamentos oncológicos podem induzir uma menopausa precoce, levando à impossibilidade de engravidar de forma natural após finalizar os tratamentos. A preservação de ovócitos é possível antes de iniciar os tratamentos e disponibilizada gratuitamente a doentes oncológicos. Para tal é necessário que o médico oncologista não veja qualquer inconveniente para tal e se avalie a inexistência de impactos negativos no tratamento oncológico (cujo início terá que ser adiado em pelo menos uma semana).  A cargo do doente fica apenas o custo da medicação (e o apenas é eufemismo, porque os medicamentos não são nada baratos). Eu fui encaminhada pela minha médica oncologista para o Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI) onde neste momento estão vitrificados oito daqueles que poderão ser os meus futuros descendentes!

Neste período antes de iniciar os tratamentos decidi também fazer uma visita ao dentista (shame on me, já lá não punha os pés há uns aninhos). E ainda bem que assim o fiz. Tinha aqui umas pequenas cáries a precisar de tratamento e soube a posteriori que os tratamentos dentários são proibidos durante a quimioterapia pois podem levar ao desenvolvimento de uma coisa má qualquer cujo nome já não sei precisar mas que envolvia as palavras necrose e gengiva na mesma frase. Assim sendo, deixo o conselho de visitarem o dentista antes de começar qualquer tratamento e confirmar sempre com o médico oncologista aquilo que pode ou não ser feito dependendo do ponto da situação em que estão.

Quando terminei este processo tive ainda direito a uma pequena intervenção cirúrgica para que me fosse implantado um catéter intradérmico que estará comigo durante todo o processo de quimioterapia. Este catéter permite que não tenham que procurar uma veia sempre que faço quimioterapia. Tenho um pequeno dispositivo implantado debaixo da pele na zona abaixo da omoplata e está directamente ligado a uma veia. Parece uma coisa assustadora mas, pelo contrário. Não incomoda nada no dia a dia e quando vou à quimioterapia apenas é preciso furar a pele e a coisa sempre é um pouco mais fácil.

E foi neste dia em que coloquei o catéter para a quimioterapia que me “caiu a ficha”. Parece que tinha andado meio adormecida durante este tempo todo em que tinha andado entretida nas correrias entre exames. Nesse dia é que percebi… Espera lá, afinal isto é mesmo a sério. Vou fazer quimioterapia, vai cair-me o cabelo, ter efeitos secundários que sabe-se lá o que me vão fazer…

Durante toda esta semana houve uma música que me acompanhou... Sim, porque sempre achei que a nossa vida precisa de uma banda sonora. Cada vez que me faziam mais um furinho, cantarolar algo (para dentro, porque longe de mim querer traumatizar com os meus dotes vocais alguém com uma agulha na mão) ajudava-me a descontrair. A ter a cabeça num outro sítio que não mais uma sala de hospital. Neste caso foi uma música especial. Algo que tenho cantarolado vezes a fio com a minha filha e que me transporta para um mundo mágico e para o quentinho da companhia dela. Sempre que a cantarolava  não me lembrava que tinha medo.






 

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