sexta-feira, 28 de julho de 2017

Assim não quero brincar mais!

E eis que termina a primeira semana de radioterapia. 

So far, so good! Sem grandes efeitos secundários a apontar, embora ache todo aquele ambiente que rodeia a terapêutica um tanto ou quanto suspeito (mas isso ficará para um outro dia...).

Ontem foi dia de consulta de enfermagem, onde fui novamente esclarecida sobre todos os cuidados a ter. Basicamente o meu lado direito não pode levar qualquer tipo de sabonete ou gel banho, desodorizante ou depilação (por isso não estranhem se me encontrarem e eu permanecer de perfil, com o lado direito a favor do vento). Os banhos devem ser de água fria ou pelo menos quase fria (OK, tendo em conta que banhos de água fria para mim são tortura e que a minha resistência não será superior a dois ou três segundos, talvez seja aconselhável que, pelo menos enquanto este calor durar, o meu contacto com pessoas seja feito estando toda eu contra o vento). Fui também aconselhada a vestir roupa larga e de algodão e a evitar qualquer tipo de exposição solar na zona irradiada. 

Nada que não se cumpra com facilidade. Agora o que me tramou foram os cuidados a ter na cozinha que me fazem pensar que, após um cancro de mama, cozinhar deveria ser considerado uma actividade de alto risco ou, no mínimo dos mínimos, um desporto radical.

Desde a cirurgia tenho andado em treino intensivo de utilização da mão esquerda, como se pode comprovar pela quantidade de comida que no final da confecção se encontra no outrora imaculado fogão em vez de no interior dos tachos e frigideiras, onde devia permanecer. Devido ao esvaziamento ganglionar, uma pequena queimadura no braço direito pode levar ao desenvolvimento de linfedema, uma condição nada simpática. E nem tem corrido mal, apesar da falta de jeito. Já interiorizei a informação no meu cérebro pequenino e quase instintivamente já uso a mão esquerda para mexer, pegar e destapar tudo o que esteja quente. 

Mas hoje o desafio adensou-se. Cuidados a ter na cozinha durante a radioterapia (e pelo menos um par de meses após o fim): usar apenas os bicos do fogão mais distantes de mim, abrir os tachos tendo sempre o cuidado da abertura ficar virada para o lado contrário onde estou e retirar as coisas do forno colocando-me lateralmente. Ou seja, nada de vapor ou calor perto da zona irradiada. Tendo em conta que a zona a proteger é (só) a metade direita do meu tronco, e que a estes cuidados se acrescenta o uso apenas da mão que menos à mão está, basicamente cozinhar vai passar a ser um acto digno de uma qualquer apresentação no Chapitô (e logo eu que sou aquele ser tão coordenadinho!)

E fica desde já assente que se na próxima consulta me disserem que tenho que fazer o pino enquanto ligo para a Telepizza é desta que desisto desta treta! Assim não quero brincar mais!


Olha eu a fazer o jantar durante a radioterapia! (Foto: Neatorama)



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