quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Porque não?

O relógio marca 03:50. Aqueço o segundo (talvez terceiro) leitinho da noite. O automatismo adquirido ao longo dos últimos dois anos e meio torna estas minhas actividades nocturnas algo enevoadas na memória. 

E agora, desde que soube que tinha cancro o regresso ao sono tornou-se mais difícil, dando margem para pensamentos mais ou menos profundos. Tanto dou por mim a reflectir sobre o sentido desta m**** toda como a pensar o que hei-de fazer para o jantar com aquilo que há no frigorífico. Há que dizer que para um cérebro macerado pela privação de sono estas podem ser tarefas igualmente complexas!

Nesta precisa noite estava eu pensar para os botões do microondas: “Eu devia era ir à bruxa… que as há há, e assim como assim mal não há de fazer. Juntava mais uns amigos para quem 2016 também foi "filha-da-mãe", fazíamos uma “vaquinha” e sempre podíamos escolher uma assim melhorzinha que a dividir por todos não custa nada. Tenho que arranjar um caderninho para ir tomando nota destas cenas.”

Lembro-me de ter lido em tempos que todos devíamos ter um caderno de notas na mesa de cabeceira. Diz-se por aí que é à noite que nossa criatividade fica em alta. Enquanto escrevia a minha tese tive muitas ideias nocturnas brilhantes! Mas devo ter qualquer afinação a fazer pois ao acordar todas aquelas ideias tão brilhantes que me iam levar na estrada de tijolo amarelo em direcção ao Nobel mostravam afinal ser devaneios disparatados e afinal o que eu tinha era mesmo sono.




Momentos de inspiração nocturna...



Mas, voltando àquela fatídica madrugada (outra característica minha é a de divagar facilmente 😊). Pensei então que talvez fosse uma boa ideia transportar esses pensamentos do caderninho para algo que estivesse acessível ao resto do mundo e quiçá arredores (is anyone out there?)…

Enquanto esperava o diagnóstico e a palavra cancro era apenas uma hipótese que me massacrava a cada segundo fiz aquilo que todo o mortal corre a fazer numa situação destas: consultar aquele que é o Sabichão dos tempos modernos, o oráculo que nos dá resposta a todas as nossas dúvidas, o Doutor Google! 

Claro que não foi nada boa ideia. Deparei-me com um dos grandes problemas dos tempos modernos, o excesso de informação! Muitas fontes credíveis, escritas por especialistas e e com bases científicas sólidas mas também muita informação duvidosa, incompleta e muitas vezes errada. E aí foi preciso ter a capacidade de usar o crivo mais "apertadinho". Mas com a cabeça às voltas nada disto é fácil. Por ironia passei uns anos da minha vida a estudar mecanismos de protecção celular contra o stress oxidativo, um dos enfant terrribles associado ao desenvolvimento do cancro. Então e se eu tentasse partilhar aquilo que vou lendo e aprendendo? 

Nasceu então a vontade de criar este blog. O objectivo principal será o de partilhar a minha experiência durante o processo de dar cabo deste "bicho" que agora não tinha mais nada que fazer do que vir chatear-me. Partilhar aquilo que vou aprendendo aqui e ali, que me vai ajudando neste caminho e mais uma meia dúzia de disparates que de quando em vez borbulham pelo meu cérebrozinho. 

E assim em resumo (a capacidade de ser poupadinha nas palavras também não é o meu forte 😉) começa hoje esta aventura. Sem pretensões a ser um blogue da moda nem eu em transformar-me numa Blogger (embora ache que fique chique no cartão de visita), mas apenas em ter uma plataforma onde possa partilhar aquilo que tem sido e será o meu caminho. Também nada daquilo que escrevo ou penso são verdades absolutas, apenas pontos de vista e factos baseados nas minhas pesquisas. E quem o ler sinta-se convidado a usá-lo e abusá-lo para partilhar também as suas experiências! E se este blog ajudar uma pessoa que seja, já valeu a pena!



Sem comentários:

Enviar um comentário