Já haviam
passado três semanas desde a ecografia. Já havia feito a biópsia e deveria aguardar que me ligassem pois seria
o médico a dar-me o resultado pessoalmente (Hmmmm, não me cheira nada bem…). Mas
são os procedimento informam as senhoras da recepção (que aqui que ninguém nos
ouve deviam muito pouco à eficiência e à simpatia).
Ah, e tendo em
conta que o médico trabalha em várias clínicas, esta apenas é contemplada pela
sua presença uma vez por semana. Assim sendo, poderia ocorrer uma semana extra
de espera entre o médico elaborar o relatório dos exames e me ser transmitido o
resultado. Uma semana. Sete dias. O tempo é relativo, e do lado em que eu
estava uma semana era a eternidade e mais uns dias. Lá dentro algo continuava a
repetir: “Não vai ser nada. Só um susto...” .
Não
aguentei esperar mais. Decidi que naquele dia me iam entregar os relatórios de
exame, estando ou não o médico presente. A recusa não seria uma opção pois todo
o paciente tem direito a ter acesso ao seu processo clínico. Muitas vezes os
médicos preferem ser intermediários activos neste processo pois a dificuldade na interpretação da
terminologia médica usada poderá levar à confusão do paciente e a estados de
ansiedade desnecessários. Para além disso querem garantir que seja dada a
continuidade necessária ao processo. Porém sabia que comigo isso não ia
acontecer e queria saber de uma vez por todas o que se passava. Ver os resultados, soltar um sorriso de alívio de beber um copito de vinho tinto para comemorar (Só um susto, já passou...).
O meu marido
foi ter comigo para que abrissemos juntos o esperado veredicto. Cedi à
ansiedade e saímos do consultório transportando na minha mão o envelope fechado
que continha o relatório que eu ainda não sabia que iria ter o maior impacto que
algum relatório teve na minha vida.
Sentámo-nos
para almoçar. Pedi um bacalhau com natas. Há já algum tempo que me andava a
apetecer.
Enquanto esperávamos pelo almoço decidimos que era altura de abrir o
envelope. Na minha cabeça continuava a repetir “Não vai ser nada. Só um susto...” mas a cada momento
que passava estava menos convicta destas palavras.
Abri o
envelope. Desprezei os relatórios da ecografia e ressonância magnética e
“ataquei” sem pensar duas vezes em direcção ao relatório da biópsia. Era
naquele pequeno envelope que estava a resposta à dúvida que há quase um mês
martelava na minha cabeça. E ao abri-lo os olhos fixaram-se de imediato naquela
palavra que tanto temia encontrar mas que no fundo já esperava que lá
estivesse: CARCINOMA.
Chorei.
Compulsivamente, sem sequer me lembrar nem ter a preocupação de estar em
público. O tão desejado bacalhau ficou quase inteiro no prato.
Até hoje os
senhores do restaurante devem andar às voltas com a receita do bacalhau com
natas que deixou uma cliente a chorar! 😀
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