Esta tem sido
a pergunta que mais vezes me tem sido feita. Sempre que conto a alguém o que se
passa há esta curiosidade natural em saber na primeira pessoa afinal como é que
se dá conta de que se tem um cancro da mama. E claro que quando o interlocutor
é uma mulher ainda maior é a curiosidade, pois todas nós temos lá no fundo
aquele sentimento de que só acontece aos outros mas, ao vermos uma
amiga/conhecida nesta situação o problema torna-se mais real. “Eh pá, afinal
isto acontece mesmo!” E uma coisa é ler nos livros ou saber pelos médicos
aquilo que devemos procurar, outra é saber na vida real afinal como é que estas
coisas se manifestam.
Não sei
precisar o dia em que comecei a sentir que algo de estranho se passava. Nem
sabia bem descrever exactamente o que era, mas tinha uma sensação estranha na
mama direita. Esta sensação aumentou de intensidade num processo que em nada foi
gradual. Sei que de um dia para o outro comecei a sentir uma sensação de peso
na mama. Ao palpar não sentia nenhum caroço (Ufa, então não é nada de
especial…), sentia toda a zona inferior como que mais densa e muita sensibilidade
(dor) ao toque. (Ufa, não deve ser mesmo nada…).
E quem é que eu procurei, quem foi? Claro, o Dr Google! Encontrei muitos mas mesmo muitos sítios que afirmavam veemente
que se é cancro da mama então não dói. Se dói será uma coisa qualquer benigna
sem grande razão para preocupação. (Ufa, isto está a compôr-se…). Deve ter sido
uma pancada qualquer que para aqui levei no milhão de pontapés, cabeçadas e
cotoveladas que a minha delicada filhota me dá entre brincadeiras e pinotes.
Ainda por cima não há casos de cancro na família, amamentei durante largos
meses e nunca sequer fui considerada pertencer a um grupo de risco para estas
coisas. Sem stress!
Claro que procurei a minha médica que descreveu aquilo que sentia na palpação como um “empastamento” no quadrante
inferior da mama. Claro que por via das dúvidas teria sempre que ir fazer uma
ecografia para despistar qualquer coisa má. Mas concerteza não ia ser nada.
Lá marquei a ecografia, sempre sem grande stress (e confesso que, por mais que agora de nada me sirva o peso do remorso, sem grande pressa). No dia marcado lá estava, com um nervoso miudinho, nem sabia bem porquê, já que não ia ser nada de mau. Ao olhar para o ecrã, o médico
torceu o nariz como quem não gosta daquilo que vê.
Tenho péssimo hábito de
tentar analisar as expressões dos médicos quando olham para os meus exames.
Naqueles instantes acho sempre que estão com ar de que estão perante um
diagnóstico dramático, daqueles do “hmmm,isto já não vai lá…” quando no fim só
devem ter uma comichãozinha no nariz daquelas chatas que surgem sempre que
temos as mãos ocupadas. Decidi então que aquele não era o momento certo para insistir nesta minha inaptidão para a análise da linguagem corporal e dar
graças por ter escolhido estudar ciências exactas. O exame estava a ser mais
demorado só para ter a certeza de que não era nada de mau.
Mas desta vez
o meu instinto estava certo. Pelas características morfológicas observadas era
imprescindível complementar o diagnóstico com uma ressonância magnética e uma
biópsia. Para ontem! Havia vaga para ressonância magnética nessa mesma tarde e
voltaria para a biópsia uma semana depois. E eu, a raparigas das 100000
palavras por minuto e que tem sempre um questão a fazer não fui capaz de fazer
mais perguntas.
Só quando saí do consultório é que caí em mim. A mente toldada por toda aquela urgência em fazer mais exames começou a clarear. "Espera, talvez não seja mesmo nada de bom...". Mas lá no fundo uma parte de mim ainda continuava a repetir "Não vai ser nada, só um susto.".
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