sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Então e como é que deste por ele?

Esta tem sido a pergunta que mais vezes me tem sido feita. Sempre que conto a alguém o que se passa há esta curiosidade natural em saber na primeira pessoa afinal como é que se dá conta de que se tem um cancro da mama. E claro que quando o interlocutor é uma mulher ainda maior é a curiosidade, pois todas nós temos lá no fundo aquele sentimento de que só acontece aos outros mas, ao vermos uma amiga/conhecida nesta situação o problema torna-se mais real. “Eh pá, afinal isto acontece mesmo!” E uma coisa é ler nos livros ou saber pelos médicos aquilo que devemos procurar, outra é saber na vida real afinal como é que estas coisas se manifestam.

Não sei precisar o dia em que comecei a sentir que algo de estranho se passava. Nem sabia bem descrever exactamente o que era, mas tinha uma sensação estranha na mama direita. Esta sensação aumentou de intensidade num processo que em nada foi gradual. Sei que de um dia para o outro comecei a sentir uma sensação de peso na mama. Ao palpar não sentia nenhum caroço (Ufa, então não é nada de especial…), sentia toda a zona inferior como que mais densa e muita sensibilidade (dor) ao toque. (Ufa, não deve ser mesmo nada…).

E quem é que eu procurei, quem foi? Claro, o Dr Google! Encontrei muitos mas mesmo muitos sítios que afirmavam veemente que se é cancro da mama então não dói. Se dói será uma coisa qualquer benigna sem grande razão para preocupação. (Ufa, isto está a compôr-se…). Deve ter sido uma pancada qualquer que para aqui levei no milhão de pontapés, cabeçadas e cotoveladas que a minha delicada filhota me dá entre brincadeiras e pinotes. Ainda por cima não há casos de cancro na família, amamentei durante largos meses e nunca sequer fui considerada pertencer a um grupo de risco para estas coisas. Sem stress!

Claro que procurei a minha médica que descreveu aquilo que sentia na palpação como um “empastamento” no quadrante inferior da mama. Claro que por via das dúvidas teria sempre que ir fazer uma ecografia para despistar qualquer coisa má. Mas concerteza não ia ser nada.

Lá marquei a ecografia, sempre sem grande stress (e confesso que, por mais que agora de nada me sirva o peso do remorso, sem grande pressa). No dia marcado lá estava, com um nervoso miudinho, nem sabia bem porquê, já que não ia ser nada de mau. Ao olhar para o ecrã, o médico torceu o nariz como quem não gosta daquilo que vê. 

Tenho péssimo hábito de tentar analisar as expressões dos médicos quando olham para os meus exames. Naqueles instantes acho sempre que estão com ar de que estão perante um diagnóstico dramático, daqueles do “hmmm,isto já não vai lá…” quando no fim só devem ter uma comichãozinha no nariz daquelas chatas que surgem sempre que temos as mãos ocupadas. Decidi então que aquele não era o momento certo para insistir nesta minha inaptidão para a análise da linguagem corporal e dar graças por ter escolhido estudar ciências exactas. O exame estava a ser mais demorado só para ter a certeza de que não era nada de mau.  

Mas desta vez o meu instinto estava certo. Pelas características morfológicas observadas era imprescindível complementar o diagnóstico com uma ressonância magnética e uma biópsia. Para ontem! Havia vaga para ressonância magnética nessa mesma tarde e voltaria para a biópsia uma semana depois. E eu, a raparigas das 100000 palavras por minuto e que tem sempre um questão a fazer não fui capaz de fazer mais perguntas. 

Só quando saí do consultório é que caí em mim. A mente toldada por toda aquela urgência em fazer mais exames começou a clarear. "Espera, talvez não seja mesmo nada de bom...". Mas lá no fundo uma parte de mim ainda continuava a repetir "Não vai ser nada, só um susto.".



  



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