quinta-feira, 12 de julho de 2018

Isto de ter cancro dá muito trabalho!

Isto de ter cancro dá muito trabalho!
O compromisso com o cancro é como um casamento “à séria”. Estamos juntos na alegria (dos relatórios de exame com um Negativo escarrapachado) e na tristeza (das angústias e medos que pairam sobre a nossa cabeça). Na saúde (a abençoada que preservamos) e na doença (esta não precisa de parêntesis). Na riqueza (de tudo o que temos de bom nesta vida) e na pobreza (que isto dos médicos, exames, tratamentos e comprimidos é caro que se farta!). Para o resto das nossas vidas (e que a minha seja longa e a do cancro nem por isso).
“Então mas agora estás bem, não é?” É! Não obstante que “estar bem” implique uns 7 comprimidos por dia ao ponto do fígado estar prestes a rejeitar o meu corpo e a zarpar rumo a um centro de desintoxicação.
“Estás com tão bom aspecto!” Felizmente o exterior nem sempre reflecte o que se passa lá por dentro, nas entranhas do nosso corpo massacrado. Começando pelas insónias, fruto das ansiedades que o cancro nos impõe e dos químicos que nos correm no sangue; passando pelo cansaço que teima em persistir, tornando cada tarefa rotineira num desafio ao nível do topo do Evereste e terminando nas dores que se instalam em cada articulação, em cada tendão e cada osso e que nos obrigam a não esquecer o que passa(ou) e que por vezes só parece não ter sido real.
E com tudo isto a nossa vida social divide-se entre consultórios, hospitais e outros que tais. “Ah, amanhã não posso que tenho consulta”; “Deixa ver na aplicação se tenho algum exame marcado para esse dia”; “Dia de injecção, não dá”.
Mas como em qualquer relação que se preze, esta história da submissão de um dos elementos perante o outro acaba mais tarde ou mais cedo por dar para o torto. E se o divórcio não for opção pois os protocolos assim não o permitem podemos sempre “dar um tempo”.
Por isso, ó cancro, hoje estás por tua conta que é dia de sardinha e bailarico!

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